segunda-feira, julho 26, 2004

Recomendo

Acrescentei na lista de links o blog Avatares de um desejo. Já tinha ouvido falar, não tinha lido.
Recomendo vivamente.

Portugal em Chamas

Um ano de paleio. Um ano de boas  intenções. Um ano de palavreado.
Resultado:

Portugal arde.
Nada se fez.

Lá para Setembo, mais paleio.

E o paleio leva-o o fogo.

É por estas e por outras que acho que os nossos governantes deveriam ser criminalmente responsáveis pelos seus actos e também pela falta deles.

Haja vergonha...

terça-feira, julho 20, 2004

Ideia

Quando estávamos a beber Só mais um copo na Gesto, surgiu uma ideia: E se no próximo ano editássemos um livro (sem pretenções de tal como o PIPI permanecer na sombra do marketing), mas sim de nós para nós e para quem o quisesse! Fica aqui a dica, para que não se esfume no dia a dia.

Para ele.

A Casa dos Budas Ditosos” foi o livro que levei para este jantar. Apesar de impulsionar a iniciativa, não expliquei porque escolhi este livro para um jantar que propus ser de sugestões de leituras para férias. Li uma passagem sob os ouvidos de um empregado de mesa quase incrédulo com o que estava a ouvir e mesmo quando me tocaram levemente na perna para parar não reparei e continuei a leitura até que senti uma travessa tocar na mesa! Assim foi a leitura deste livro, provocante, misteriosa, crua e fria ao falar de amor ou de fazer amor. Li-o numa noite enquanto esperava pelo meu “amante” e quando o acabei estava ainda mais ansiosa por o encontrar, por lhe cair nos braços e tomar nos meus braços, tocar-lhe e beijá-lo... Quando vi a peça representada pela Fernanda Montenegro e no final ela disse que toda aquela narrativa se servisse para pelo menos uma pessoa fazer uma “sacanice” naquela noite já teria valido a pena, sorri baixinho, porque na verdade aquela foi a sensação exacta que fiquei no final do livro: fazer “sacanice”! Continuo sempre a sorrir baixinho pela noite em que o li, um dos momentos a recordar na minha vida que um livro me proporcionou! E perguntar-se-á quem lê isto porque motivo estarei eu a contar isto!! Talvez pareça um relato demasiado pessoal, mas os livros também são as nossas prosas, as nossas vidas e tudo o que nos fazem viver ou talvez sonhar... E para que percebam porque escolhi o livro teriam de perceber o contexto que o envolveu, num saco de momentos perdidos que guardamos debaixo da almofada. Por vezes os sentidos têm de ser acordados, os tabus têm de ser cortados e precisamos de nos limitar a sentir. A sentir o nosso corpo, o corpo do outro, a música, um quadro, o mar ou o sol... sem fazer teorias devassas nem tentativas de explicação para o que só tem existência no nosso “sentir”. Pegando neste livro desejava acordar os sentidos e que cada um sentisse. Sentir. Sentir. É a palavra de ordem de umas merecidas férias depois de andarmos de um lado para o outro a resolver coisas, a arranjar soluções para uma vida que às vezes parece desprovida de sentido. Portanto, encham-se de “sentires” para que quando o Outono chegar possam sentir a húmida saudade dos “sentires” que viveram! Acordem para o todo que vos rodeiam, lendo ou não este livro, dêem atenção a vocês e a tudo o que se relaciona com o vosso pequeno mundo. Para mim é muito importante lembrar-me da simplicidade das coisas que vou vivendo, porque me ajuda a dar maior importância a cada uma delas e a cada momento que respiro!

segunda-feira, julho 19, 2004

jantar dos caracóis no dia 16 de Julho

O jantar foi outra vez num restaurante quase sem nome... havia algumas pessoas verdadeiramente interessadas naquilo que estavam a dizer... Sinto-me sempre uma leiga quando ouço as pessoas partilharem os seus livros e autores aconselhados! Ainda bem que posso estar aqui, para ouvir o que têm as pessoas a dizer. Existem pessoas interessantes e que refletem a sua alma nos livros que leêm. Existem outras que fazem uma análise pormenorizada. Existem pessoas quase sem nome. Existem as que têm dores. Existem, claro, as apaixonadas. Existem as que contam histórias das viagens que fizeram ou não fizeram... as viagens dos livros que leram! Existem as que se emocionam com o turismo sexual. Houve quem trouxesse um livro, apesar de se intitular como não leitor de romances. Algumas choram enquanto outras riem. Os opostos fazem parte das nossas inquietações. Os livros retratam a religião, o sexo e a sociedade. Serão nossos? Serão deles? também se falou da morte, dos "paraísos artificiais"... Falou-se do Euro. telefonemas na casa de banho. Falso patriotismo? Crise política em Portugal.  Houve espaço, igualmente, para se falarem de coincidências ocorridas, em bares perdidos da ribeira, comboios... Aqueles que conhecem aqueles que são conhecidos por outros...
 
"O essencial de um livro é o que provoca em nós." E nós somos a narrativa do próprio livro. Neste jantar fez-se poesia e prosa. cada livro tem um papel diferente conforme os arranjos planetários de quem lê. Partilharam-se experiências e opiniões neste jantar. 
 
Falamos da perfeição pela mão de Oscar Wilde e Sigmund diz " Dorian Gray é a metáfora da nossa sociedade. A primazia da imagem em vez do ser!".
 
Foi sem dúvida o jantar mais literário... como um recanto iluminado num fim de semana a despontar!
 
Dicas para as férias:
big Sur de jack Kevouac
paula de isabel allende
deseperância de anthero monteiro
no meio do mundo de michel houellebecq
o mundo aqui ao lado de paulo salvador
o retrato de dorian gray de oscar wilde
a casa do sono de johnathan coe
o código da vinci de dan brown
invisible monsters de chuck  palanhiuk
a invenção do amor de daniel filipe.
a casa dos budas ditosos de joão ubaldo ribeiro
 

quinta-feira, julho 15, 2004

Olá Voltei

Olá caros amigos!!! é só para dizer que voltei!!!!

Instantaneos da vida de um Estudante Boémio #1 - A partida

Aviso à navegação: esta série que inicio agora tem tanto de auto-biográfico como de ficção...ou talvez não

A viagem para o rectângulo era à noite, numa quinta-feira, quase no final do prazo para a inscrição na faculdade. Tinha um misto de receio e excitação no meu coração. Não ajudou nada a frase dos meus pais "deixa lá que são só cinco anos". É que já naquela altura pretendia passar bastante mais tempo fora da Ilha que coartava as minhas ambições e que me tinha mostrado já o pior que a âmbição politica e o sentimento de impunidade causam. Sentia-me mesmo um exilado político. Tinha optado por abandonar uma profissão que adorava por fazê-la bem. Não me rendi a ofertas de tachos, panelas e frigideiras, com apartamento de função incluído para omitir informação ou render-me à auto-censura. Era um jovem idealista. Mas fartei-me. E decidi-me pela aventura da universidade.
Ia de T-shirt, porque na Ilha é sempre primavera. A viagem correu rápida enquanto revisitava quase toda a minha vida até alí: os amores, os amigos, o trabalho, esta ou aquela história, este ou aquele sítio que me ia fazer falta.
O avião aterrou no Porto por volta onze horas. A música que puseram a tocar enquanto a malta se levantava, naquela confusão de malas, filas par sair, enfim, tudo o habitual na altura de sair do avião era Prefab Sprout. Prefab Sprout...Nunca me esqueci disso. Não deixei de pensar que era umn excelente augúrio para a aventura que aí começava.
Ao chegar à porta, fiquei gelado. Chovia torrencialmente e o frio era muito, pelo menos para mim.
Passei essa noite num colégio religioso, onde um dos padres amigo de um tio era professor ou coisa parecida.
Levantei-me cedo no dia seguinte. A Santa Madre Igreja não gosta de preguiças na cama e impõe-se...Fui para a rua, tentando descobrir como chegar à faculdade. Tinha uma ideia vaga (não sei porquê) que devia ser perto da avenida dos aliados, o que até nem estava errado. Cheguei lá de autocarro. Primeira lição: levar trocos para comprar o bilhete, que os condutores não curtem notas de mil escudos.
Saí e olhando para o mapa que arranjei no posto de turismo, lancei-me à procura da faculdade. Devo ter-me enganado nalguma esquina, porque fui bater ao pé da (agora sei) Alfandega. "Bem", pensei, "não deve ser por aqui, porque o rio tá a minha frente!".
Lá me orientei e acabei por chegar à cordoaria, onde, no preciso momento em que passava, decorria uma rusga a cèu aberto, com 5 ou 6 tipos enconstados a uma parede a serem revistados e outros tantos a andar com muita pressa. "Vim ter a um sítio fixe", pensei. Onde me vim meter.
Lá dei com a faculdade, que me impressionou logo pela sua velhice. Lá me matriculei. Ainda era cedo, pelo que os morcegos que antecipava era escassos, para não dizer nulos, quando entrei na secretaria. Mas o sexto sentido dos praxistas é apurado e quando saio, já tenho duas doutoras à minha espera. Uma líndissima, a Marta. Fiquei logo bem disposto.
- És caloiro?
- Sim.
- Vou-te praxar - disse a Marta, com um sorriso maroto.
- Faz de mim o que quiseres!


(continua)

quarta-feira, julho 14, 2004

De caloteiras e afins

Hoje andei aí a ver uns blogs que já não visitava há muuuuuuuito tempo. Há um de que sempre gostei, mas os últimos posts são absolutamente fantásticos!! Vão aqui e vejam do que é capaz de surgir a partir da verdadeira raiva. Isto é arte. E, como se não bastasse, com imensa piada.

Eu gosto do novo primeiro-ministro da Nação

Porque:

1- Vai ser só rir
2- Porque ele gosta de copos quase tanto como eu (ou pelo menos dizem que sim)
3- Já salivo ao pensar nos comentários do Marcelo a partir de agora
4- Percebe quem realmente manda no País: Foi primeiro à TV e só depois ao Presidente
5- Tenho um político em condições para cascar aqui no blog
6- Não é um cinzentão
7- Tem piada a postura de estadista numa pessoa que não cumpre os mandatos para que foi eleito
8- As empresas de marketing (os que fazem os cartazes) vão ganhar muito dinheiro. Já estou a ver o primeiro cartaz em todo o país: "Há 30 dias sem dormir. Portugal com sono, mas lutar contra o desemprego"
9- Já estou a imaginar qual será o novo Parque Mayer a reabilitar: A Rua de Santa Engrácia
10- Pôs a clientela política até aqui instalada e arrogante em sentido. É a dança das cadeiras, é a dança das cadeiras...
11- Vai ser engraçado o confronto Santana/Sócrates. A sério que vai.

Da Política com Paixão à Política com Humor (mas sem se aperceber)

Há uns anos houve um tipo que falou de paixão na poltica. Pouco tempo depois, já ficava toda a gente em pânico quando uma qualquer área era objecto da "paixão" do senhor.

Agora temos a política com Humor (mas sem se aperceber).

Enquanto houver um desemprego não durmo (ou coisa que o valha).


Comentários:

1- Vamos ter um primeiro ministro sem capacidade de pensar devido à falta de sono.
2- Anda aí gente a tomar cafés e speeds para aguentar as noitadas. Estúpidos. Vão para o governo e percam o sono com os desempregados, com a floresta, com o defice...Há razões para aguentar uns anos valentes sempre na borga
3- Acusaram-no de populista. Aqui está a prova. Quem é que acredita nisto (mesmo que seja uma metáfora)
4- A retoma vai começar nos bares e discotecas da 24 de Julho


Agora só falta o Sócrates dizer que não come enquanto houver uma incineradora a funcionar em Portugal

segunda-feira, julho 12, 2004

Esta cidade

Esta cidade

Quer eu queira quer não queira
Esta cidade
Há-de ser uma fronteira
E a verdade
Cada vez menos
Cada vez menos
Verdadeira

Quer eu queira
Quer não queira
No meio desta liberdade
Filhos da puta
Sem razão
E sem sentido
No meio da rua
Nua crua e bruta
Eu luto sempre do outro lado da luta

A polícia já tem o meu nome
Minha foto está no ficheiro
Porque eu não me rendo
porque eu não me vendo
Nem por ideais
Nem por dinheiro
E como eu sou e quero ser sempre assim
Um rio que corre sem princípio nem fim
O poder podre dos homens normais
Está a tentar dar cabo de mim
Cabo de mim


letra: João Gentil
música: Xutos & Pontapés

Então Lopes?!

Então? Tá tudo?
Ouvi dizer que há uma enbrulhada qualquer com a tua declaração de IRS.
Então rapaz?
Fugir ao fisco ainda é naquela, a malta também faz isso...
Mas agora fazer dessas e depois andar a chatear a malta para cumprir não cai bem...
Vê lá se explicas isso...

Portas põe-te a pau!

Paulinho,

Tem cuidado!
Olha que tens de começar a pensar no teu partido.
Olha que há a ideia de que o teu partido é um anexo de empregada do do Lopes.
Não te agarres tanto aos submarinos, rapaz!! Vão-te roubá-los e tu vais ficar sem nada.
Põe-te a pau, Paulinho!!
Depois não digas que não te avisei...

As coisas que se aprendem com o que se escreve

Tenho andado a reflectir sobre os meus últimos posts aqui no blog. Há coisas que um gajo nem se apercebe e que têm a ver com as coisas em que um tipo anda mais focado.
Lembro-me de ter andado a fazer diversos posts de verdadeiro sarcasmo e crítica há uns tempos atrás. Talvez até de participação cívica.
Passei pela revisitação de amores passados.
Entrei na descrição de um amor recente e posterior fim.

E hoje dou por im num processo de análise do que foi a minha realidade nos últimos tempos e chego à conclusão de que estava excessivamente centrado num determinado assunto, que realmente preenchia a totalidade da minha mente.
Talvez tenha sido melhor acontecer o que aconteceu. Porque estava a ficar muito limitado no que pensava. Claro que faz parte do processo de paixão, e não me sinto culpado com isso.

Mas hoje, dei por mim a ler o Público e a reflectir sobre o estado da política portuguesa e a fazer meia dúzia de ilações e previsões.
Conclusão: estou a abrir a mente novamente.

Quando acaba algo que nos preenchia os dias e as noites, o primeiro sentimento é o de vazio, de "o que é que eu faço agora". Depois, vêm uma tendência natural para analisar o fenómeno, para revisitar o passado, para olhar para um futuro que parece não ter objectivos concretos.
E entramos num processo quase inconsciente de criação de novos objectivos, nem que o objectivo seja encontrar-se a si mesmo depois de uma crise. Construção e reconstrução do nosso ser, coisa que não termina nunca.
Os objectivos imperativos de um determinado espaço de tempo passam a não ser tão importantes como isso num outro espaço de tempo.
Vamos criando novos objectivos, novas maneiras de estar, ser e pensar ao superar (ou não) certos objectivos. Um processo imparável.
Há uns anos atrás divulguei uma frase que ainda hoje em dia vejo sair da boca de outras pessoas: "a crise gera desenvolvimento".
Pois é...A crise gera desenvolvimento. E o prazer também.

Este blog começou como uma forma de falar de livros que nos marcam.
Ganhou vida própria e tornou-se, a espaços de tempo diferentes, meio de revolta, de crítica, de humor.
Tem passado muito, nos últimos tempos, por um registo quase auto-confessional - muito por minha culpa - diria mesmo terapeutico. Já o Hemingway dizia que a maquina de escrever dele era o seu terapeuta.

Reparo que ao ler posts antigos, evolui alguma coisa neste espaço de tempo. De completo doidivanas à procura de prazer imediato e recordações para o futuro, passei por uma fase de descrença em relação a quase tudo, depois fui beber ao passado e às pessoas que me marcaram, entrei num fase de redescoberta do amor e agora sinto-me num espaço de tempo em que estou a integrar tudo isto.
Ando com uma tendência para o doidivanas novamente - o que até é uma reacção normal aos ultimos acontecimentos. Mas tenho a sensação de estar um bocadinho mais lúcido e mais que isso, com mais esperança na condição humana. Pelo menos vejo-me a valorizar muito mais coisas que andavam alheadas da minha mente há muito tempo, como a amizade.
Claro que isto não é de repente. Espera-me hoje à tarde um momento que antecipo como dificil e que tem a ver com o enfrentar a coisa amada, mas num registo diferente do que foi o habitual até aqui. E isso nunca é fácil.
Contudo, isto de reflectir e chegar a algumas conclusões ajuda um bocadito. Dá-nos o Norte (ou vários Nortes) que pareciam ter desaparecido. Afinal, é a mudança de Norte que se passa agora.
Há uma certa exaustão do que foi a minha realidade até agora. Apetece-me abrir os horizontes que estavam demasiado centrados e pessoalizados noutra pessoa. Apetece-me cruzar uma rua e olhar verdadeiramente para o que se passa à minha frente, não o que se calhar está a passar-se atrás de mim. Apetece-me olhar novamente para a esquina alí como um portão para novas experiências agradáveis, de aventura. Não com medo do que possa acontecer. Apetece-me não me condicionar a mim próprio. Apetece-me ser eu próprio, gostem ou não disso. Apetece-me voltar a ser eu, que se orgulhava de saber que falavam mal de mim, mas que falavam. Que não era indiferente a ninguém, fosse pela negativa fosse pela positiva. Apaguei-me um pouco nos últimos tempos. Ainda ando à procura de voltar a estar aceso. Mas já me apetece isso.
Parece que estive a dormir, a viver um sonho e que começo a acordar.
Ora bem...Bom dia Sigmundo!





sexta-feira, julho 09, 2004

Há qualquer coisa superior

Há dias assim.
Um gajo tá meio fodido. Exausto até, de um investimento feito de corpo e alma durante se calhar demasiado tempo.
Apetece-lhe beber um copo. Desanuviar. Está à espera que lhe liguem para concretizar combinações feitas à tarde. Até põe a tocar Morrissey para curtir a dor de corno. Fica farto de ter pena de si próprio e recebe um imperativa sonoro: "à minha maneira" dos Xutos.
E recebe logo duas mensagens para ir tomar uns canecos.
Há qualquer coisa de superior em acção aqui.

O velho Sigmundo está de volta. Mais forte com mais uma experiencia e de peito aberto para as novas surpresas da vida, alí mesmo ao virar de cada esquina.

"Hold on to your friends" não é? Os meus aparecem mesmo quando não fazem ideia de que preciso deles. É bom isto.

This is the end

A nossa sociedade está cada vez mais interesseira. Perde-se cada vez mais o verdadeiro sentido da amizade, do amor, de tudo o que realmente interessa neste mundo.
O verdadeiro amor parece ter sido substituido por relações unidas pelo suposto cimento do medo da solidão.
A ética, a cultura de exigência, a política com o objectivo de servir o povo e não o servir-se do povo, é hoje esquecida em nome do vil metal.
Nos relacionamentos já não interessa o que se sente, mas sim se a outra pessoa nos traz valor acrescentado em termos mais "práticos". Colocam-se diferenças de personalidade ou visões do mundo acima dos próprios sentimentos.
Mas não são os sentimentos que deveriam comandar? Não são os sentimentos que nos permitem aceitar as diferenças, conjugando emoções com respeito pelo que é diferente, mas que nos ama e nós amamos? Não é isso que realmente interessa? Não é isso que nos permite a evolução? tornarmo-nos pessoas melhores? Aprender e corrigir os erros?
Quando se rejeita os próprios sentimentos porque antevemos que maneiras de estar diferentes criarão problemas ou levarão possivelmente ao fim de uma relação, não estamos a ser estúpidos? Cobardes? acomodados?
Isto tudo é apenas rejeitar a possibilidade da felicidade porque há a possibilidade da dor. Não embarco nisso. Nunca. Mesmo que não atinja o que almejo.
Chamam-me muitas vezes platónico, romântico incurável, lírico. Porque sou fiel aos meus sentimentos, seja de amor, amizade ou outros. Porque acredito que é possível criar um mundo melhor e que tenho o dever ético de contribuir para isso. Porque acredito que a indiferença, a injustiça, a incompetência devem ser eliminadas. Que o mundo deveria ser liderado por poetas e não por comerciantes. Que o amor vale por si. Mesmo que às vezes acabe. Que a pasta dentifrica aberta é menos importante que gostar de um determinado sorriso.
E sou fiel a mim próprio quando esses sentimentos se esbatem ou terminam. Nestas alturas chamam-me sacana, insensível, e por aí além. Porque sou fiel ao que sinto, não abdico de almejar atingir os objectivos a que os sentimentos me guiam, sou um eterno incompreendido. Porque os meus principios de vida são diferentes. porque não me rendi ao comodismo. Porque só sou fiel a mim próprio e ao que sinto. Porque acredito no amor, embora por vezes desça aos infernos por ele. Que o impossível somos nós que o criamos. Que há sempre mais um degrau depois do último.
Como diz o Morrissey "I am hated for loving". Por amar a vida.

Mas não abdico desta forma de funcionar. Aliás, na minha vida, em todos os aspectos e diariamente, nunca me satisfez a mediania. Nem estar medianamente feliz nem estar medianamente triste. Nem peixe nem carne. Estar com um pé dentro e outro fora, não é comigo. Ou é ou não é. Existe o cinzento, claro, mas apenas até decidir-me pelo branco ou o negro.
Esta postura tem-me trazido muita dor. Desilusões. Mas tem-me trazido também muitos momentos de pura felicidade, de verdadeiro "Bliss". E só um desses momentos compensa os negativos.
Quem se contenta com o "vamos andando", com o "podia estar pior" dá-me pena. Porque dificilmente atingirá o "estou bem", o "estou optimo". Há quem, ao olhar para o céu, se detenha nas nuvens. Eu só paro nas estrelas e imagino o que estará para além delas.
Já me arrependi do que fiz, mas raramente me arrependi do que não fiz. Porque quase sempre optei por fazer em vez de não fazer.
O medo da dor como razão para rejeitar a felicidade; o medo de acabar como razão para não começar; o medo da batalha como razão para não lutar...Para mim é incompreensivel.

Enquanto gozava o processo de me apaixonar, tu analisavas as coisas "práticas".
Enquanto me deslumbrava com as tuas qualidades e ia aceitando os teus defeitos, tu ias-me comparando com gente do passado.
Enquanto eu chegava à conclusão que valia a pena experimentar, arriscar, tentar aceitar as tuas idiossincrasias, tu decidias-te pelo contrário, porque me olhaste com os mesmos olhos com que olhaste quem te feriu no passado.
Eu dei-te o beneficio da dúvida, tu tiraste conclusões precipitadas e agarraste-te a elas.
Enquanto eu optava pela verdade e deixava os jogos estúpidos, tu ias-me induzindo em erro, tanto dando como tirando.
Enquanto eu tentava aceder ao âmago do teu ser, tu optaste pela minha superficie e aí ficaste porque confirmava a tua ideia de que "não havia futuro".
Eu optei por valorizar o gostar de ti, em detrimento das diferenças. Tu valorizaste as diferenças em detrimento do facto de gostares de mim.
Ok. eu respeito. Mas tenho pena de ti. Porque assim nunca atingirás a felicidade porque tens medo de te magoar. Eu tenho mais possibilidades de atingir a felicidade porque aceito a possibilidade de me magoar.
Estou triste, é certo. Mas não te tenho raiva. Não me queres embora gostes de mim, mas eu continuo a gostar de ti. Porque continuas a ser a mesma pessoa, mesmo que deixes de gostar de mim. Se calhar tens razão quando dizes que não somos certos um para o outro. Mas não pelas tuas razões...Partir do principio que não funciona sem tentar pôr algo a trabalhar é estúpido. Porque às vezes a máquina mais velha e estropiada funciona. E funciona bem.
Vais andar por aí à procura do acessório, das coisas práticas, julgando que assim serás feliz. Desculpa, mas - e já devias saber isto - isso só te vai trazer mais dor. Porque vão estar contigo não pelo que tu és, mas pelo que lhes trazes de "prático".

Eu rio, choro, sofro, festejo, caio e levanto-me. Tu não. Tu andas às voltas.
Eu vivo. Tu vais vivendo.
Eu vivo as coisas a 100 por cento. Tu analisas as coisas a 200 por cento e enganas-te na análise.
Eu corro e apanho o comboio. Tu vês se o bilhete é caro, se o comboio chega a horas, se há lugares à janela, se o ar condicionado funciona, se o tempo em rota é bom ou não e acabas por perder o comboio.

Este comboio perdeste - ou melhor, optaste por não entrar. Talvez ainda o apanhes noutro apeadeiro. Resta a dúvida de saber o maquinista te deixa entrar e se o destino é o mesmo.

Eu entretanto vou-te tentar esquecer. Fechar este capítulo. Com um final muito pouco hollywodesco, mas com a lembrança dos bons momentos que me deste e que te dei. Quando o impossível nao existia, quando o amor era possível, quando eramos inseparáveis. Quando a estrada parecia não ter fim. Espero que não me tenhas mentido nessa altura. Espero que não me tenhas mentido agora. Isso sim faria detestar-te, não o facto de não quereres iniciar algo.
Não chegamos lá. Mas apesar de tudo valeu a pena a viagem que agora termina. Porque o impossível era possivel.


sexta-feira, julho 02, 2004

180º

Toda a nossa vida é uma narrativa. Valorizamos acontecimentos em detrimento de outros, viramos à esquerda quando deveriamos virar à direita e voltamos ao mesmo caminho, com novas experiencias. às vezes mais fortes. às vezes mais fracos. Mas sempre mais enriquecidos.

Tem piada quando juntamos certos acontecimentos e os tornamos a nossa vida. Ou um capitulo da nossa vida.

O último encerrei-o com um ponto final de raiva e tristeza. Mas eis que me vejo de volta ao mesmo percurso, mais forte, com mais poder. É bom estes desvios do caminho para o compreendermos melhor. E optar por prossegui-lo. De forma diferente e novamente ao comando de mim próprio.
Uma paragem de reflexão não só é desejavel, como muitas vezes essencial.

Arranjei um CD dos Xutos.
Fui a outras paragens debitar o meu conhecimento.
Brilhei.
Tornei-me objecto de desejo para outras almas até aqui desconhecidas.
Meteram gasolina e implicitamente pediram-me para voltar.
Apetecia-me a vida malvada.
E os companheiros de sempre surgiram de surpresa. Todos.
E assim sigo o meu caminho.
Com os meus companheiros de sempre em direcçao à vida malvada.
De volta à estrada que julgava perdida. à minha maneira.

Repito:

à minha maneira.

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