segunda-feira, julho 12, 2004

As coisas que se aprendem com o que se escreve

Tenho andado a reflectir sobre os meus últimos posts aqui no blog. Há coisas que um gajo nem se apercebe e que têm a ver com as coisas em que um tipo anda mais focado.
Lembro-me de ter andado a fazer diversos posts de verdadeiro sarcasmo e crítica há uns tempos atrás. Talvez até de participação cívica.
Passei pela revisitação de amores passados.
Entrei na descrição de um amor recente e posterior fim.

E hoje dou por im num processo de análise do que foi a minha realidade nos últimos tempos e chego à conclusão de que estava excessivamente centrado num determinado assunto, que realmente preenchia a totalidade da minha mente.
Talvez tenha sido melhor acontecer o que aconteceu. Porque estava a ficar muito limitado no que pensava. Claro que faz parte do processo de paixão, e não me sinto culpado com isso.

Mas hoje, dei por mim a ler o Público e a reflectir sobre o estado da política portuguesa e a fazer meia dúzia de ilações e previsões.
Conclusão: estou a abrir a mente novamente.

Quando acaba algo que nos preenchia os dias e as noites, o primeiro sentimento é o de vazio, de "o que é que eu faço agora". Depois, vêm uma tendência natural para analisar o fenómeno, para revisitar o passado, para olhar para um futuro que parece não ter objectivos concretos.
E entramos num processo quase inconsciente de criação de novos objectivos, nem que o objectivo seja encontrar-se a si mesmo depois de uma crise. Construção e reconstrução do nosso ser, coisa que não termina nunca.
Os objectivos imperativos de um determinado espaço de tempo passam a não ser tão importantes como isso num outro espaço de tempo.
Vamos criando novos objectivos, novas maneiras de estar, ser e pensar ao superar (ou não) certos objectivos. Um processo imparável.
Há uns anos atrás divulguei uma frase que ainda hoje em dia vejo sair da boca de outras pessoas: "a crise gera desenvolvimento".
Pois é...A crise gera desenvolvimento. E o prazer também.

Este blog começou como uma forma de falar de livros que nos marcam.
Ganhou vida própria e tornou-se, a espaços de tempo diferentes, meio de revolta, de crítica, de humor.
Tem passado muito, nos últimos tempos, por um registo quase auto-confessional - muito por minha culpa - diria mesmo terapeutico. Já o Hemingway dizia que a maquina de escrever dele era o seu terapeuta.

Reparo que ao ler posts antigos, evolui alguma coisa neste espaço de tempo. De completo doidivanas à procura de prazer imediato e recordações para o futuro, passei por uma fase de descrença em relação a quase tudo, depois fui beber ao passado e às pessoas que me marcaram, entrei num fase de redescoberta do amor e agora sinto-me num espaço de tempo em que estou a integrar tudo isto.
Ando com uma tendência para o doidivanas novamente - o que até é uma reacção normal aos ultimos acontecimentos. Mas tenho a sensação de estar um bocadinho mais lúcido e mais que isso, com mais esperança na condição humana. Pelo menos vejo-me a valorizar muito mais coisas que andavam alheadas da minha mente há muito tempo, como a amizade.
Claro que isto não é de repente. Espera-me hoje à tarde um momento que antecipo como dificil e que tem a ver com o enfrentar a coisa amada, mas num registo diferente do que foi o habitual até aqui. E isso nunca é fácil.
Contudo, isto de reflectir e chegar a algumas conclusões ajuda um bocadito. Dá-nos o Norte (ou vários Nortes) que pareciam ter desaparecido. Afinal, é a mudança de Norte que se passa agora.
Há uma certa exaustão do que foi a minha realidade até agora. Apetece-me abrir os horizontes que estavam demasiado centrados e pessoalizados noutra pessoa. Apetece-me cruzar uma rua e olhar verdadeiramente para o que se passa à minha frente, não o que se calhar está a passar-se atrás de mim. Apetece-me olhar novamente para a esquina alí como um portão para novas experiências agradáveis, de aventura. Não com medo do que possa acontecer. Apetece-me não me condicionar a mim próprio. Apetece-me ser eu próprio, gostem ou não disso. Apetece-me voltar a ser eu, que se orgulhava de saber que falavam mal de mim, mas que falavam. Que não era indiferente a ninguém, fosse pela negativa fosse pela positiva. Apaguei-me um pouco nos últimos tempos. Ainda ando à procura de voltar a estar aceso. Mas já me apetece isso.
Parece que estive a dormir, a viver um sonho e que começo a acordar.
Ora bem...Bom dia Sigmundo!





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