quinta-feira, julho 15, 2004

Instantaneos da vida de um Estudante Boémio #1 - A partida

Aviso à navegação: esta série que inicio agora tem tanto de auto-biográfico como de ficção...ou talvez não

A viagem para o rectângulo era à noite, numa quinta-feira, quase no final do prazo para a inscrição na faculdade. Tinha um misto de receio e excitação no meu coração. Não ajudou nada a frase dos meus pais "deixa lá que são só cinco anos". É que já naquela altura pretendia passar bastante mais tempo fora da Ilha que coartava as minhas ambições e que me tinha mostrado já o pior que a âmbição politica e o sentimento de impunidade causam. Sentia-me mesmo um exilado político. Tinha optado por abandonar uma profissão que adorava por fazê-la bem. Não me rendi a ofertas de tachos, panelas e frigideiras, com apartamento de função incluído para omitir informação ou render-me à auto-censura. Era um jovem idealista. Mas fartei-me. E decidi-me pela aventura da universidade.
Ia de T-shirt, porque na Ilha é sempre primavera. A viagem correu rápida enquanto revisitava quase toda a minha vida até alí: os amores, os amigos, o trabalho, esta ou aquela história, este ou aquele sítio que me ia fazer falta.
O avião aterrou no Porto por volta onze horas. A música que puseram a tocar enquanto a malta se levantava, naquela confusão de malas, filas par sair, enfim, tudo o habitual na altura de sair do avião era Prefab Sprout. Prefab Sprout...Nunca me esqueci disso. Não deixei de pensar que era umn excelente augúrio para a aventura que aí começava.
Ao chegar à porta, fiquei gelado. Chovia torrencialmente e o frio era muito, pelo menos para mim.
Passei essa noite num colégio religioso, onde um dos padres amigo de um tio era professor ou coisa parecida.
Levantei-me cedo no dia seguinte. A Santa Madre Igreja não gosta de preguiças na cama e impõe-se...Fui para a rua, tentando descobrir como chegar à faculdade. Tinha uma ideia vaga (não sei porquê) que devia ser perto da avenida dos aliados, o que até nem estava errado. Cheguei lá de autocarro. Primeira lição: levar trocos para comprar o bilhete, que os condutores não curtem notas de mil escudos.
Saí e olhando para o mapa que arranjei no posto de turismo, lancei-me à procura da faculdade. Devo ter-me enganado nalguma esquina, porque fui bater ao pé da (agora sei) Alfandega. "Bem", pensei, "não deve ser por aqui, porque o rio tá a minha frente!".
Lá me orientei e acabei por chegar à cordoaria, onde, no preciso momento em que passava, decorria uma rusga a cèu aberto, com 5 ou 6 tipos enconstados a uma parede a serem revistados e outros tantos a andar com muita pressa. "Vim ter a um sítio fixe", pensei. Onde me vim meter.
Lá dei com a faculdade, que me impressionou logo pela sua velhice. Lá me matriculei. Ainda era cedo, pelo que os morcegos que antecipava era escassos, para não dizer nulos, quando entrei na secretaria. Mas o sexto sentido dos praxistas é apurado e quando saio, já tenho duas doutoras à minha espera. Uma líndissima, a Marta. Fiquei logo bem disposto.
- És caloiro?
- Sim.
- Vou-te praxar - disse a Marta, com um sorriso maroto.
- Faz de mim o que quiseres!


(continua)

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