quinta-feira, novembro 17, 2005

Os lugares cósmicos: Parte 3

Jaisalmer. Puskhar. Palolem.
Estes foram os três lugares onde me senti mais em comunhão com o cosmos. De formas diferentes, sem dúvida.

Em Jaisalmer senti a força do deserto, do calor e da cor do entardecer. A cidade ficava com cores douradas e só me apetecia sorrir. Parecia que já tinha vivido por ali e que estava a recuperar velhas memórias. As pessoas eram mais provincianas. Os putos escondiam-se a espiar enquanto experimentava roupas. Mas também autênticas. O Mister G., dono do hotel onde ficámos disse-nos que esperava o nosso regresso, mas da próxima com namorados para “sermos mais felizes”. A cidade é sem dúvida muito romântica e quente.

Em Puskhar senti a força do universo apoderar-se sobre mim. Foi um dos sítios onde mais escrevi. Apetecia-me telefonar para casa e dizer “Vou ficar por aqui uns meses!”, a dar conta de alguns sonhos! Aqui apesar de acompanhada foi o sítio onde me senti mais só. Aquela solidão que todos procuramos de vez em quando. A solidão que se reveste de tudo e de todos. Foi também o local em que o esforço físico foi mais recompensado e mais espiritual. A subida do monte foi desgastante, mas quanto mais custava, mais perto céu eu me sentia. Li numa revista indiana que os habitantes desta terra abençoada estavam fartos de tantos estrangeiros. Estavam a retirar o seu brilho de espírito. Como os compreendo. Quase não volto lá para não profanar lugares tão sagrados. Foi também onde uma finlandesa com ar de louco me perguntou se eu era repórter… Quem me dera! Ela na sua loucura leu um dos meus desejos mais sublimes: descobrir culturas e escrever sobre elas.

Por fim Palolem. Que pena aquele lugar estar transformado numa estância de férias para ingleses e para turistas com uma alma tão pouco presente! Um local tão mágico. Com as cores mais sublimes que algum dia vi num entardecer. Queria poder prometer que todos nos íamos embora para que o lugar recuperasse a sua alma, Senti-me egoísta porque queria sentir Palolem à dez anos atrás. Senti-me egoísta porque não queria aquelas pessoas ali. Queria indianos. Queria alma. Queria o que apenas imaginava. Ficou-me apenas a saudade do que eu não conheci mas que já por ali andou. Foi o lugar onde chorei de raiva, de pena, de tudo o que me faz infeliz. Foi o lugar onde fiz o retrato da minha vida. O meu espírito ficou a nu. Chorei. Chorei. Queria simplesmente entrar pelo mar adentro. Queria ser eu dentro de uma pele molhada. Queria ser o vermelho do céu, do mar.

1 Comments:

At 3:06 da tarde, novembro 18, 2005, Blogger Luna said...

Mais do que viagem de grandes distâncias, essa deve ter sido uma grande e intensa viagem espiritual!

 

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