quinta-feira, novembro 17, 2005

Viajar.

De que serve viajar para as pessoas? De que me serve viajar? É uma questão que me coloco sempre que regresso de férias, sempre que regresso de viagem. Continuo a ser a mesma pessoa, a minha realidade continua a ser a mesma, se tiver sorte as pessoas que ficam, continuam exactamente iguais a antes de ir embora. Não espero mudanças drásticas, mas parece que espero sempre fechar ciclos quando decido partir para outro país. Quase como se esperasse que o confronto com outras culturas me fizesse mudar uns pedaços de alma. Quase como se encher os olhos e a alma pudessem esvaziá-los de coisas menos importantes, menos saudáveis. Espero uma substituição dos fios mais fracos, dos elos menos positivos, das manias e cismas. Espero uma pequena mudança que vai trazer-me novas possibilidades de análise, novos sonhos, novos objectivos e consciências diferentes das habituais.

Antes de ir, evito as expectativas, evito imaginar sobre o que vou encontrar e centro-me apenas na ideia de ir. Como se partir fosse uma necessidade vital. Como se partir me libertasse da ideia de catástrofe anunciada. Na verdade, se ficasse nada acontecia. Nenhuma catástrofe teria lugar.

No entanto, vou. Vou e sempre com vontade de voltar apenas quando sentir saudades. Nem sempre volto com saudades. Volto quase sempre com a obrigação da responsabilidade a cumprir no lugar de onde parti. Responsabilidade. Cumprimento de obrigações. Fim de ciclo, renovação e início do próximo ciclo pendente apenas por um fio que tende a partir sempre para dar lugar a outro que se arrisca a não fazer qualquer sentido.

Sinto-me sempre entre fios de ciclos mais ou menos duradouros, mais ou menos intensos. Mas volto sempre ao lugar de onde parti. Volto sempre para o olhar de maneira diferente. Para o sentir de outra maneira. Quando chego preciso de tempo para recuperar. Recuperar do que vi, do que senti. Perceber que elos se mantêm ligados e quais os que se romperam para dar lugar a outros.

Custa-me entender novamente as rotinas. Custa-me começar a trabalhar. Custa-me perceber o que vai ter um fim próximo e o que vou manter de futuro. Penso no que serão os meus talentos e no que serão os meus desalentos. Preciso de tempo e de paz para o fazer. Preciso de ler e compreender cada uma das letras que se apresenta à minha frente. Tudo isto é o meu caminho de regresso de uma viagem. Tudo isto demora algum tempo. Existem coisas mais imediatas, como sentir-me mais calma, harmoniosa, paciente, desperta e com vontade de começar. Por outro lado, sinto-me com vontade de parar, de ter tempo para integrar, de conseguir ter tempo parada antes de embarcar no novo navio. Hoje estou a finalizar a necessidade de estar parada.

Estou finalmente a integrar a viagem. Estou a recuperar para poder dar aos outros o que trago na alma. Para ser capaz de partilhar tenho de me ligar ao mundo. Quando chego parece que me persegue uma euforia de agarrar tudo com ambas as mãos. Depois essa euforia dá lugar a uma nostalgia. Que atinge o seu ponto máximo no dia em que me fecho sobre mim. Hoje fechei-me. Não sou capaz de falar. Não sou capaz de dar. Sinto-me tão sozinha que até deixo que me corram umas lágrimas. Acho que esta sensação de solidão faz parte do desejo de me abrir a novos mares. Assim me sinto hoje que pretendo finalmente preparar-me para ver o velho mundo. Cheio de lugares comuns. Preenchido de grandes esperanças.

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