quinta-feira, novembro 17, 2005

A partilha: Parte 1

Houve uma frase especialmente importante que um Italiano nos disse em Jaisalmer. Ele está a trabalhar lá temporariamente e enquanto partilhava um pouco da sua história, dizia que em Itália trabalhava e não era feliz. Isto acompanhou-me durante todas as férias. Ser feliz. Procurar novos caminhos para me sentir mais feliz. Isto fez-se acompanhar de uma capacidade de partilha que é típica dos Indianos que conheci. Pensei em como aquele italiano estava integrado na cultura simples de abertura dos sonhos e temores que cada um de nós vive. Ainda hoje me sinto acompanhada por esta frase relativa à felicidade e na responsabilização que cada um tem em a procurar. Os pequenos momentos de felicidade. Não é nova. É apenas o relembrar de uma frase repetida vezes sem conta, em que procuro sempre entender o sentido mais extenso que ela guarda.

O nascer do sol mais especial que vi foi aquele à saída de Jodpur. Vínhamos de Jaisalmer e deixávamos para trás uma viagem de 6 horas de comboio. Muito pó naquele comboio. E dali queríamos ir para Puskhar. Apanhamos uma camioneta velha. Com uma suspensão quase inexistente, os bancos quase todos estragados e lixo, muito lixo no chão. Os vidros não fechavam e o frio da manhã entrava-me no corpo. Parecia tudo tão mau que quando olhei para o céu e o sol começava a despertar, achei que estava num sonho mágico. Tudo tinha ganho um brilho mais forte. O autocarro tinha-se transformado. Não voltei a dormir. Estava de óculos e vinha um rapaz indiano a olhar para mim. De repente estendeu-me o que parecia ser um livro. Vinha tão inebriada que recusei. Achei que me queria vender alguma coisa e eu desejava viver aquele momento sozinha. Ele sorriu e disse tratar-se de um álbum. Aceitei-o. Desfolhei-o. Ele explicou-me ser as férias na cidade vizinha com os amigos. As fotografias de má qualidade. As poses pouco naturais de cinema indiano. Mas o sorriso no seu rosto enquanto via as fotografias dele. Quando terminou a sua viagem saiu recatado, com o álbum debaixo do braço. A felicidade por as partilhar. Imaginei-me num autocarro Porto-Lisboa a dar o meu álbum a alguém para ver as minhas férias e chorei pela minha incapacidade de partilhar a minha vida com os desconhecidos. Ainda bem que estava de óculos de sol porque vim a chorar durante um bom bocado. Senti a minha dificuldade em partilhar o que é realmente importante para mim!

Sem dúvida que foi esta capacidade de partilha humana o que mais me tocou em toda a viagem. Senti os olhos molhados diversas vezes. Como se, quem nada tem partilha o mais importante: a sua vida. Associado a isto senti o real interesse por mim, por quem era, o que fazia, se era casada, e como era Portugal. Se o meu Inglês fosse melhor teria contado toda a minha história…

1 Comments:

At 12:15 da tarde, novembro 18, 2005, Blogger Rainha das cores said...

obrigada por partilhares tudo isto connosco...

 

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