Carta I
"...
...estavamos a falar, mas não conseguias olhar para mim. o que mais me magoava era a frieza com que falavas. parecia que te tinhas tornado noutra pessoa. enquanto falavamos eu tentava olhar o fundo dos teus olhos para encontrar algum resto de emoção. tentei encontrá-la com o medo de que se não a visse naquele momento ela iria perder-se para sempre. pareceu-me ver a sua sombra, mas não tenho a certeza...
é engraçado como as palavras ditas de uma forma fria parecem ultrapassar os limites da audição e cravarem-se bem fundo na alma.
assim foram as tuas palavras daquele dia: frias. sem emoção. sem conteúdo. apenas palavras perdidas ao acaso, em que dizias que já não gostavas de mim. ainda as trago presas na alma.
despedimo-nos e eu pensava na frieza com que tinhas conseguido falar comigo... e mesmo agora, às vezes, penso na tua capacidade de te afastares das coisas, olhares com a rigidez da razão e de te agarrares aos argumentos como que empunhando um punhal frio e cortante.
e ainda penso na tua frieza...
..."
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