segunda-feira, novembro 19, 2007

A Desilusão de Deus - The God Delusion e ataques "Ad Hominem"

No post sobre a publicação da edição portuguesa de "The God Delusion" há um comentário de Sapka, que começa muito bem, mas que acho que termina muito mal.
Eu próprio chamei à atenção para o que considerei uma má tradução do termo delusion, o que originou uma discussão curta mas interessante sobre a mesma.
Há formas e formas de chamar a atenção para um erro - propositado ou não, fruto de pressões ou não, originados por decisões editoriais ou não - eu falei em "não é bem desilusão". O objectivo foi atingido, de tal forma que até uma pessoa apresnetando-se como uma das tradutoras decidiu esclarecer neste humilde blog a questão.
O Sapka dá mais força a esta questão importantissima da tradução do termo - como eu próprio afirmei, pode induzir o comprador do livro em erro. Até aqui tudo bem.
O problema, a meu ver, e até me baseando em outras leituras - algumas relacionadas com a questão de deus ou dos mecanismos da crença, como "How we believe" de Michael Shermer; "The End of Faith" de Sam Harris ou "God the failed hypothesis" de Victor Stenger ou outras leituras relacionadas com cepticismo e desconstrução de paranormalidades e falácias é quando, ao se defender - MUITO BEM! - o que um autor pretende dizer e que ficou mal traduzido, se cometam erros que eu considero de palmatória para quem parece conehcer bem a obra de Dawkins e o esforço que ele e outros têm feito no sentido de esclarecer e elucidar o público sobre como se caem em esparrelas.
Tudo isto para dizer que não considero de bom tom que se utilizem ataques "Ad Hominem" ao debater seja o que seja. O facto da tradutora se afirmar enquanto crente não implica necessariamente que tenha feito um mau trabalho. Não li a tradução portuguesa - afinal já li a original e não sou crítico de traduções - mas pelo facto de uma palavra estar mal traduzida no título e por mais razão que tenha, e tem-na Sapka, nada justifica os ataques que faz. Esta frase "Mas claro, quando se é crente, tem-se medo do ira divina, não é, senhora tradutora?" é um mau serviço que presta ao movimento e ás pessoas que se esforçam por diminuir a crendice que por aí anda, recorrendo exactamnente às mesmas falácias que criacionistas, astrologos e afins utilizam para atacar e descredibilizar quem aponta e denuncia quem se serve da crendice humana. Lembre-se que um ataque comum aos cepticos é "pois claro que não acredita em XPTO, afinal não acredita em Deus!"
Sapka, depreendo que seja uma pessoa esclarecida. Por isso mesmo é que me surpreendeu e irritou este seu ataque Ad Hominem - Mesmo tendo razão no argumento principal, assim perde um bocadinho da razão. Aos habituais leitores do blog, desculpem lá este post tão sério do habitualmente avariado asdrubal.

7 Comments:

At 2:30 da manhã, novembro 20, 2007, Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 2:33 da manhã, novembro 20, 2007, Anonymous Anónimo said...

Ó Asdrubal, creio que a sua irritação é por eu o ter criticado... a si. Mas sem que eu me tivesse apercebido disso!

De facto, você agora revela ter sido sua a frase "delusion não é bem desilusão". Enganei-me, pois, quando pensei que tinha sido a Gita, a que se se apresenta como a tradutora, por isso peço desculpa a ela, seja ela quem for.

A outra discussão não é para aqui chamada, isto é, saber se sim ou não um crente, uma pessoa religiosa, pode ser um bom tradutor de um livro anti-religioso, isto é, de um magnífico panfleto anti-Deus. Eu podia entrar nessa aqui, mas não me apetece. Esse é um debate que posso ter com a Gita, mas só se a ela lhe apetecer. Consigo não. Porque você entende como um insulto, como um ataque pessoal, a afirmação que eu fiz - feita, é certo, num tom polémico e frontal, mas que apenas coloca uma questão muito séria, muito pertinente e muito debatida no mundo das ciências sociais: quem é que pode escrever (e traduzir, acrescento eu) de forma mais isenta e objectiva sobre religião? O crente ou o não crente? O religioso ou o ateu? Eu tenho ua ideia formada sobre isso, fruto de alguma experiência e também de várias leituras. Você acha que o que eu penso é um insulto...

Pense nisso e depois diga qualquer coisa..

 
At 1:27 da tarde, novembro 20, 2007, Anonymous Anónimo said...

Sapka,
Há formas e formas de dizer as coisas e eu próprio tenho a tendência para o sarcasmo. Por ser um tema, e um livro que considero extraordinário, sério, talvez por isso é que me deu para ligeireza na critica à tradução. O que querio é que toda a gente o leia.
A questão essencial, a meu ver, tem a ver com o que considerei - interpretei se quiser- um ataque "ad hominem" da sua parte à tradutora, ou seja, que as crenças dela poderiam ter levado à má tradução, propositada - entretanto a própria já se debruçou sobre isso e a "culpa" ao que parece é da editora e houve também outra tradutora no processo, não crente.
Compreendo o que diz, que a caracteristicas da pessoa possam influenciar as percepções, etc. mas mesmo assim, e aqui e apenas aqui o critico, na frase que utilizou, ao meter a ira divina e tal.Pareceu-me excessivo. pareceu-me, honestamente, um ataque ad hominem, desnecessario até porque os factos falam por si: a tradução é desadequada e induz em erro.

 
At 6:27 da tarde, novembro 20, 2007, Anonymous Anónimo said...

Vejo que persiste em que faço ataque ad hominem, mesmo depois de eu lhe ter sugerido que a "etnocentricidade" da tradutora pode ter influído na atitude mental e intelectual com que ela encarou não só a tradução do texto em si (que não conheço), mas a própria questão fulcral do título. Ora esse etnocentrismo exerce-se justamente através das crenças, valores, precoceitos e temores conscientes e subconscientes de quem escreve, observa... ou traduz! Foi assim, frontalmente, talvez sem os paninhos quentes habituais da nossa terra, que eu pus a questão. Não encontrei ainda outra explicação para a atitude de complacência da tradutora para com uma arbitrariedade grave.

Claro que o mais absurdo em tudo isto, e o mais indesculpável, é o papel do pretenso "editor" - coisa que ele não é, mas sim um boçal e um ignorante absolutamente destituído de escrúpulos profissionais.

Pela mesma natural razão que não se pede a um crente "orgulhoso da sua crença" (sic) para traduzir um livro-panfleto contra essa mesma crença, não se pede a um marxista para traduzir um panfleto pró-capitalista, nem a um fascista para traduzir um livro pró-democracia. Chocou-me, nesta história, a ligeireza a rondar a leviandade com que um tradutor se resignou a um título gritantemente errado, ainda que "imposto" pelo pseudo-editor. Não conheço a pessoa da tradutora, não faço ideia quem seja. Isolei e considerei aqui apenas a sua (parcela de) responsabilidade no erro absurdo do título português - sobretudo quando ela acrescentou que era crente.

 
At 6:26 da tarde, novembro 21, 2007, Anonymous Anónimo said...

Discordo consigo quando diz que um crente não pode traduzir uma obra de um ateu (é claro que também não estou a ver o papa a traduzir este livro...).
Que as visões pessoais de cada um influenciam as suas percepções, tudo bem, mas também é preciso não cair em exageros pós-modernistas ou construtitivistas ou etnocentristas - o que lhe quiser chamar. É que quando se trata de um trabalho, neste caso de um livro, neste caso de uma tradução, o que interessa é a qualidade do trabalho, não as caracteristicas da pessoa que o fez. Porquê? porque esse trabalho - não a pessoa - é que deve ser alvo de escrutinio, critica e análise. Não acrecsenta grande coisa a essa crítica se pessoa (tradutora) é budista, ateia, ou adepta do benfica. A tradução deve e tem de valer por si mesma e esta é que deve ser criticada (positiva ou negativamente). Para mais quando se fala de um livro com o "Hype" como este, esse escrutinio certamente será feito (se é que já não o foi).
Pegando nas suas palavras e argumentação, a sua "etnocentricidade" relativa às caracteristicas da tradutora - o ser crente - podem influenciar (diria negativamente) a análise que faz da obra - da tradução. Daí o termos de ter muito cuidado quando confundimos a obra com o autor.
Há pouquissimo tempo, um grande cientista (não me lembro o nome, acho que esteve envolvido na descoberta do ADN ou coisa parecida) disse uns disparates sobre raças. Como pessoa é um nojo. Mas isso não torna a sua produção cientifica má.
É esta a minha visão.

 
At 8:14 da tarde, novembro 21, 2007, Anonymous Anónimo said...

Não retiro uma palavra do que disse nem tenho mais nada a acrescentar, a não ser repetir que considero um erro fatal confiar a um crente "orgulhoso da sua crença" a tradução de um panfleto contra essa crença. O resultado está à vista - A "desilusão" de Deus!!!

 
At 7:11 da tarde, novembro 22, 2007, Anonymous Anónimo said...

Só para terminar:
Quando alguém me disser - e justificar - que a tradução portuguesa desvirtua as palavras originais de dawkins - até posso colocar a possibilidade das crenças terem influenciado o trabalho ou, pior, isso ter acontecido intencionalmente.
Quanto ao título, de acordo na má escolha de palavras. Em desacordo na culpa da tradutora pois já li noutros sítios que estes são escolhidos pelas editoras. A cesar o que é de César: a culpa é da editora, pelo que se percebeu ao longo desta discussão.
Noutro registo, apesar do tom, sinto-me contente por ter iniciado este debate, que até levantou questões importantes, se nos concentrarmos no essencial.
Cumprimentos Sapka. Estou em desacordo, mas respeito a sua opinião.

 

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