Os dias da Tulipa Negra

Uns diziam que a Tulipa Negra era eu, outros afirmavam que não era.

Ele dizia que a Tulipa Negra era uma francesa que tinha emigrado cedo para Nova York. Artista falhada que vivia perto de Broadway. Mas ele costumava dizer que na verdade ela era uma artista-agricultora-que-não-fazia-ideia-de-que-o-era. Mas ele conheceu-a mal, por isso não sei dizer se ele tinha ou não razão. Ele tentou que ela escrevesse o argumento para uma história que ele carregava dentro de si. Ela nunca teve tempo de a conhecer e portanto nunca saberá como seria.

Outro dizia que a Tulipa Negra tinha saído do argumento do filme Amélie para a vida real. Talvez fosse a forma surreal como ela acreditava que podia controlar as coisas à sua volta.

Ela dizia que a Tulipa Negra era uma sedutora que se podia perder nos objectos que seduzia. Que era uma pessoa que podia correr o risco de se perder no entusiasmo da sedução, sem nunca ninguém a conhecer.

Quem será a Tulipa Negra. Eu não sou. Não tenho a certeza de algum dia a ter chegado a conhecer. Sei apenas alguns dias que ela vive. Não sei se será Francesa que vive em NY. Não sei se algum dia chegou a ser agricultora. Sei apenas que tem flores. Não sei se continua a surreal. Apenas que olha para as coisas. Que vive as coisas. Quem será a Tulipa Negra? Sabemos que vestia de Negro e pintava os lábios de encarnado. Teremos apenas alguns dos seus dias. Dias sempre na primeira pessoa.