Dias da Tulipa Negra # 1

Acordo a ouvir Mazzy Star. Visto um vestido negro, as meias negras com botas negras. O casaco também é em tons de negro. Para ser uma Tulipa Negra só faltava pintar os lábios de encarnado.

É o contraste com o azul do céu, o brilho do sol e frio do ar. Saio para a rua. Vou a serralves. Depois almoçar à ribeira.

"Vem almoçar outra vez sozinha?" - pergunta o dono do restaurante, como que incomodado com isso. Esboço o meu sorriso mais aberto e respondo "Eu gosto de almoçar sozinha!".

Não lhe expliquei porque gosto de estar sozinha. Não lhe expliquei como gosto de sentir a boca fechada. Como gosto de mastigar em silêncio. Como gosto de me abstrair do tempo e do espaço. Como gosto de mergulhar dentro de mim. Como não lhe expliquei nada disso, talvez ele tenha ficado incomodado por me ver a almoçar sozinha num domingo. Às vezes, parece que as pessoas se incomodam com isso.

Como se ver pessoas sozinhas nos lembrasse a nossa própria solidão. Como se a solidão fosse uma coisa triste.