Ela sabia que no dia em que deixasse de ter músicas novas para ele ouvir, ficaria sozinha. Ele iria embora. Imediatamente. Ela procurava sempre novas músicas. Ele às vezes fartava-se de esperar, enquanto outras vezes adormecia. De vez em quando deitava-se no ombro dela e pedia para adormecer a ouvir as músicas sempre novas que ela lhe trazia.
A vida deles assentava neste equílibrio musical até um dia. Estavam os dois no carro. Para variar ela arranjara novas músicas para o envolver e não o deixar partir. De repente, o aparelho entrou em "modo eco" e ele levantou-se, despediu-se e foi-se embora. A música já não estava lá para o envolver e ela ficou a olhar em câmara lenta para a situação e dizia baixinho: "- Mas eu posso cantar... Fica..."
5 Comments:
Muito bonito!
Marina: Estas sempre lá. Tu não cantas... tocas... profundamente.
Jinhos.
Este post faz-me lembrar as histórias das mil e uma noites: a Sherazade (?) sempre com uma história nova para contar ao rei à noite para impedir que ela o matasse... Não tem muito a ver mas lembrou-me.
elentári, tens toda a razão! faz mm lembrar isso.... n fui assim tão original ;) reparei agora
Não se trata de originalidade, além de que a tua abordagem é muito mais poética. A ideia é parecida, mas quando escreveste o post não estavas a pensar em histórias encantadas persas, mas sim em possíveis realidades do nosso dia-a-dia, o que o torna muito mais vivo e interessante.
Enviar um comentário
<< Home