segunda-feira, janeiro 24, 2005

No País das Túlipas #2

O dia é gasto em reunião.
Ás 18.30, chegamos ao restaurante, muito simpático e que recomendo vivamente, chamado Toque Toque, na Oudergraacht. Boa comida (se bem que não nas quantidades a que estou habituado), excelente atendimento (cada empregada mais gira e simpática que a outra). E a rematar, Marisa em som de fundo. Ao que parece, a nova geração do Fado português é muito apreciado na Holanda. Dizem-me durante o jantar que o Camané vai lá actuar em Fevereiro e que já há corrida aos bilhetes. Como de costume, os estrangeiros apreciam mais do que nós o que temos de bom.
Aparece o H. para irmos tomar um copo. O I. espera cá fora. Não quer encontrar antigos colegas de trabalho que jantavam comigo. Choque número dois: o I., meu companheiro de andanças desviantes fumarentas e liquidas sempre que vou à Holanda deixou de beber, de fumar, etc e agora anda a tentar reconstruir a vida. Sim. Até os génios (ou se calhar por causa disso) escorregam no alcool e por vezes têm dificuldade em se levantar. Felizmente, parece estar no bom caminho. Um daqueles casos que ninguém esperava. Usava drogas e a determinado momento as drogas começaram a usá-lo. Agora decidiu desfazer-se de tudo. A extensa garrafeira foi para o H. Os restos de erva e chamon para mim, entregues depois de um abraço prolongado numa das pontes que atravessa o Oudergraacht, num daqueles saquinhos de plástico que dão tanto jeito.
Vamos para o Au Dam (não sei se é assim que se escreve) uma cervejaria com fabrico próprio do outro lado do canal. Bebemos água com limão. É a primeira vez que o I. entra num sitio onde se vende alcool há muitos meses. Enquanto o I. vai à casa de banho, o H. agradece-me ser amigo do I. Diz que foi um passo importante e que se não estivesse lá, tal passo seria mais dificil. Diz-me que é bom que o I. tenha um amigo como eu (e o próprio H.), que até tomam uns copos e tal, mas são sadios. Permite ao nosso amigo uma variação de outros contextos, onde ele se movia e onde se usavam outras coisas que não a cannabis e o álcool.
São estas coisas que nos fazem sentir vivos e uteis. Não os via há uns dois anos. Continuamos a conversa onde a tínhamos deixado. Há qualquer coisa que nos une, uma verdadeira amizade que se mantém já há uns 5 anos, apesar de não nos vermos mais que uma vez cada ano. Mais uma acha para a fogueira da hipotese da vida anterior. E, desta vez, não precisou do alcool como pretexto. Queriamos os três apenas estar com os outros. Porque gostamos da companhia dos outros. Porque esta amizade vale por si e não temos nada a ganhar - antes pelo contrário - por nos darmos uns com os outros. É que também lá na Holanda as amizades que temos por vezes são mal-vistas. Sim, eles - os holandeses - também têm alguns preconceitos.
A noite acaba cedo. 23.30 já estou no Hotel. Mas satisfeito, embora um bocadito triste pelas andanças recentes do I. Felizmente está no bom caminho, motivado. E, mais que isso, senti fortemente que sou uma pessoa importante na vida dele. Estarei mais presente. às vezes um telefonemazito pode evitar a caída de um amigo. Lá estarei.

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