sexta-feira, janeiro 21, 2005

"Dias de nuvens cinzentas"

Nem sempre consigo perceber. No entanto, procuro fazê-lo. Para isto, tenho várias premissas. Uma das quais consiste em tentar perceber para além da aparência.

“Hoje acordei mal disposta.” Aparentemente aquilo que se pode chamar uma “nuvem negra” e que normalmente se deixarmos passar não causa os estragos de uma tempestade. Aparentemente uma situação pacífica. Em tudo igual a outros dias. Mas causa-me confusão passar pelas coisas e achar que é apenas um dia cinzento igual a outro qualquer com as mesmas emoções. Não sei porquê, mas causa-me confusão estar perante a tela a ver a vida correr passar. É evidente que nem sempre os dias estão cinzentos por algum motivo palpável, mas se os aproveitar sinto que posso encontrar qualquer coisa nova.

Pensei em duas soluções. Ir para casa, deitar-me no sofá e esperar que o dia acabasse. Calçar sapatilhas e ir caminhar à velocidade do meu pensamento. Optei pela segunda. Decidi ir caminhar e deixar o meu pensamento correr à velocidade das ondas da praia. Não direccionei o pensamento para nada. Tentei esvaziá-lo para que as vozes profundas pudessem chegar até mim.

Parti do pressuposto de que se libertasse o pensamento iria perceber os motivos da minha sensação de cinzento.

E assim foi. Lembrei-me do dia em que deixei de escrever periodicamente e abandonei todas as pretensões da escrita. Foi à 14 anos. Terminou no dia em que queimei os diários dos últimos 4 anos e tudo o que lhe estava associado. Foi exactamente o dia em que decidi que não queria que ninguém lesse nada do que escrevia. Foi o dia a seguir a terem lido um dos diários sem que eu autorizasse e em que assumi que a partir de então as ideias ficariam apenas dentro da minha cabeça. Curiosamente coincidiu com um dos períodos da minha vida mais afastada do meu interior. Mudou-se qualquer coisa. E vivi num alienamento qualquer. Durou alguns anos até passar. Está a demorar outros tantos a recuperar.

Comecei a escrever outra vez aqui no blog. Excepto algumas cartas não enviadas em momentos de angústia. E desde que, comecei a escrever aqui lembrei-me do efeito terapêutico deste acto. E enquanto caminhava, a sentir o vento e o cheiro a maresia, lembrei-me que precisava disto.

Não acho que a nuvem cinzenta fosse por causa disto, mas permitiu-me criar tempo para me encontrar comigo e perceber o quanto é importante começar outra vez. Nem me lembro como o fazia, mas lembro-me de desejar que uma máquina ligada à minha cabeça escrevesse à velocidade do meu pensamento... Vou deixar-me flutuar!






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