segunda-feira, dezembro 20, 2004

para os "meus" caracóis"

Acordo. Todos os dias isso acontece. Parece irrelevante, mas não é! Às vezes não me apetece sair da cama. Às vezes apetecia-me manter ali debaixo dos cobertores, numa “toca” impenetrável, onde esqueço a rotina, o frio das pessoas e ausência de quem só passou. Mas acordo e consequentemente saio da cama. Para contrariar a ideia de exílio na toca, ouço música. Pode igualmente parecer irrelevante, mas não é! A música põe-me em contacto com o mundo, abre uma janela qualquer para fora de mim mesma. E é com a música que vou deambulando de lado para lado, na minha minúscula casa. Faço o luto da noite que acabei de deixar para trás e preparo-me para sair pela porta da rua. Isto também é relevante! Podia sair pela janela, mas prefiro sair pela porta... Faz-me sentir igual a todos os outros. Lá vou eu pela estrada e sempre com música. É o meu silêncio. Nem sei por onde vou, mas sei que chego sempre. Vou a sonhar. A imaginar coisas novas. Percorro novos caminhos de aventura. E sempre a achar que tenho pouco tempo para tudo o que sonho. Uma vez mais, pode parecer irrelevante, mas não é! Vão perceber mais tarde. Às vezes vou cansada e só me apetece voltar para a toca que deixei à minutos. Às vezes parece-me que sonho demasiado. Às vezes só queria que voltassem a pegar em mim ao colo e me dissessem “Deixa estar, estavas a sonhar... Vai lá brincar!” Outras, ainda, parece que ando apenas desligada de tudo o que é importante... É nesses dias que entro em pânico, chateio-me com o trânsito, quase como se achasse que gritar com os outros, diminuísse a minha dor e a minha frustração. Lamentavelmente ou não... Não evito nada do que sinto nesses dias e volto para o meu silêncio de uma música qualquer. Há sempre uma música específica para cada um dos meus silêncios... E isto também não é irrelevante! Cumpro os meus deveres de Cidadão ou lá o que isso é e trabalho. Esforço por me rir... Ou melhor não me esforço, porque fui dotada de jeito, tanto para chorar como para rir!! E isto sim, não é de todo irrelevante! Levo os sonhos a brincar com eles, com o colorido de uma música qualquer. E sempre que arranjo um espaço lá começo a sonhar, com uma facilidade que me deixa surpreendida. E agora todas as irrelevâncias tornam-se relevantes. Sonho demasiado. Sonho que cada um tem sempre a possibilidade de colorir uma música na vida dos outros. Irrito-me por ter pouco tempo para oferecer esse colorido. Ofereço a música dos meus silêncios com um sorriso sempre sincero... Não consigo evitar a sinceridade das minhas lágrimas e dos meus sorrisos. E cá ando eu, num mundo em que o silêncio tem a cor da música e em que os sonhos me proporcionam a capacidade de fazer muitas coisas em simultâneo (Só espero não passar pela vida a correr demasiado...)... No entanto, nem sempre tenho a capacidade de aliar a lua e o sol com tanta facilidade e sinto-me frustrada, irritada por ter dormido horas demais, por ter desistido de coisas importantes e por ter insistido em coisas sem interesse. Chateio-me.

Quando era pequena e brincava com bonecas, não brincava aos “pais e às mães” nem nada dessas coisas habituais. Brincava sempre a organizar a vida das minhas bonecas. Queria uma casa de bonecas? Fiz uma. Móveis? Também fiz. Roupa? Também fazia. E depois? Ficava a olhar para tudo organizado... Ou então, preparava festas, sentava as bonecas e ficava sentada a olhar para elas a imaginar os diálogos... Andava sempre com a cabeça entre a lua e os sol a criar cenários e enredos para as histórias que elas viviam.

E qual é a relevância disto tudo para “Oscaracoisdamarina”?
Quando acordo e me levanto, tenho um objectivo. Criar. Criar para depois me deixar envolver nos sorrisos e nas palavras que ouço. Para sentir que consigo levar algum brilho da música dos meus silêncios, que também são os livros... Os livros escritos num silêncio de alguém e que depois podemos partilhar, sonhar e elevarmo-nos mais alto. Obrigada por escreverem. Por nos terem deixado ler. Por sentirem... Mas essencialmente por nos fazerem sentir qualquer coisa. Obrigada aos caracóis por me deixarem mais feliz por criar, por existir e por ser eu própria.

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