quinta-feira, julho 06, 2006

crónicas de uma rapariga gira sem namorado aos 30 anos # 59

Uma das principais preocupações das minhas amigas é que eu não esteja disponível para me apaixonar por alguém. De uma maneira ou de outra elas lá me perguntaram quando cheguei de férias se tinha conseguido deixar o passado para trás. Como se fosse possível com umas simples férias deixar-se qualquer tipo de passado para trás. É uma terrível ilusão, essa. Ninguém deixa um passado para trás. Pode esquecer-se temporariamente dele. Pode chegar-se com mais ou menos agarrada a ele, mas nunca esquecer-se.

É interessante essa coisa de deixar o passado para trás. Também é interessante essa coisa da disponibilidade. São as ambas difíceis de operacionalizar. Como é que se deixa o passado? Olhando para o presente? Mas o presente está sempre impregnado de cheiros do passado. Como é que funciona a disponibilidade? Será que sabemos quando estamos disponíveis? Não me parece que possa definir como objectivo nem um nem outro. Ambos acontecem por acaso. Ambos acontecem com o passar do tempo. Ambos acontecem sem planeamento. Posso planear actividades, passatempos, trabalhos e até rotinas. Mas foge do meu controlo o passado e a disponibilidade.

Acerca disso, gostava que as pessoas não insistissem tanto em perguntas, cuja resposta parece só ter como objectivo deixá-las descansadas. Não são respostas para mim, com toda a certeza. Elas fazem os possíveis para que eu ande para a frente, mesmo que eu não saiba bem que frente é essa que elas pretendem que eu atinja. A mim parece-se com uma obra de arte abstracta. Sim. Olho. E cada um vê o que quer ver. Eu vejo o que quero.

Sobre a minha questão do passado ou da disponibilidade ocorre-me aquela frase de que “fazer planos é ficar pegada a eles”. A única coisa que tento fazer é apagar a maioria dos planos que fiz para que não me sentisse pegada a eles. E é isso que faço. Portanto não me perguntem pelo passado. Perguntem de que planos é que me tenho vindo a libertar. Perguntem-me que sonhos é que eu tenho deixado fugir como água entre os dedos. Isso sim pode dar uma ideia do presente.

Ou então, desafio a que me digam como é que se liberta do passado e como é que se cria a disponibilidade para apaixonar. Pode ser sempre uma oportunidade para aprender alguma coisa para dar respostas mais convincentes às minhas amigas.

2 Comments:

At 10:16 da tarde, julho 06, 2006, Blogger Pêndulo said...

Recentemente li sobre um povo andino, cujo nome não recordo, que tem a caracteristica de, quando se refere ao passado, o associar a "frente" e não "atrás" como nós. Ou seja, quando olham em frente vêem o passado, e não conseguem descortinar o futuro por estar nas suas "costas". Isso origina que não falem do futuro.
Não consigo encontrar a notícia mas as tuas palavras recordaram-me esse texto. Estarão eles correctos ?

 
At 11:55 da manhã, julho 07, 2006, Blogger Ísis Osíris said...

interessante essa perspectiva!

 

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