segunda-feira, janeiro 31, 2005

No País das Túlipas #4

Por volta da meia-noite, entramos no Ekkos. Trata-se de um bar/sede de um clube cultural. Organizam regularmente concertos ao vivo de bandas emergentes, concursos de novas bandas, festas temáticas, debates, etc. Quase um centro cultural alternativo.
O espaço divide-se entre um bar, normal, com mesas e cadeiras e uma sala interior, maior, onde é a discoteca.
Ao entrar, deparamo-nos com as tribos góticas, cyber-góticas e talvez até alguns "Black Metaleiros" em convivio com (poucas) pessoas vestidas de forma, digamos, normal. O ambiente é optimo, apesar da música industrial e gótica que se ouve. Muito cabedal, muitos vestidos góticos, muitos decotes, botas de cano alto, até mesmo dois ou três homens vestidos com saias compridas de cabedal negro. Muita gente tem a cara pintada. Isto é uma verdadeira festa gótica.
De realçar a extrema beleza produzida das góticas. Em cada canto mulheres belissimas, inacreditavelmente belas, com aquela estética gótica que sempre me atraiu. Beleza quase artistica, que me leva apenas a deleitar-me com tais visões, sem o mínimo de interesse sexual (pelo menos a principio), apenas desfrutando daquela beleza quase pura.
Bebemos umas cervejas e vamos observando a fauna. É uma festa gótica, mas nem por isso as pessoas deixam de sorrir e ser simpáticas umas com as outras. Não há choques com as pessoas, não há cervejas derramadas. Há diversão, há dança, mas não há pés pisados ou encontrões. Apesar da violência musical (a música é quase sempre de pendor industrial).
Na discoteca, as pessoas dançam, parecem conhecer todas as músicas. Ao longo da noite só reconheci uma faixa dos Nine Inch Nails. Mas gostei da música, muitas vezes em holandês ou alemão. Numa das paredes é projectado nome da música que está a tocar, o que dá jeito caso se queira comprar o CD, já que no bar há um stand com CDs à venda.
Existem algumas aves raras. Uma mulher muito muito obsesa, aparece vestida de noiva, de branco, o que contrasta com o ambiente negro à volta. Parece quase uma dominatrix branca.
A noite é passada entre o bar, a conversar, a discoteca, a dançar. A determinada altura lembro-me que tenho comigo o saquinho de erva que o I. me deu. E toca a procurar alguém que tenha mortalhas para fazer o charuto. Só à quinta tentativa consigo arranjar "smoking papers". Os 4 góticos anteriores não fumavam! Uma delas até pareceu ficar desiludida ao perceber a razão da minha investida...Afinal aqueles sorrisos eram para mim... Se estivesse sozinho ou noutra companhia, até era capaz de tentar ver aonde aquele conhecimento casual ia.
Pergunto no bar se posso fumar um joint. Pois é, na Holanda nem em todos os sitios é bem-visto ou permitido fumar cannabis. É um acto de boa educação perguntar e convém sempre fazê-lo. "Sure, no problem!" diz-me a empregada, pelo que acendo logo alí o dito cujo, que faz imediatamente efeito. Uma colega e um conhecido holandes partilham a coisa comigo. A primeira começa com uma conversa muito esquisita sobre hormonas sexuais, que finjo não perceber. É que o joint também me bateu de uma forma muito sexual. Agora é que não consigo tirar os olhos dos decotes góticos. O companheiro holandes aterra completamente, senta-se e um minuto depois está a ressonar...Pois é, foi ganacioso, apanhou uma over-ganza...
A determinado momento (devem ser umas 3 da manhã), a pandilha onde me incluo está toda sentada e a N. propõe a emigração para outro bar, desta vez um bar de estudantes. Há quem diga que logo que sim (eu) outros ponderam o regresso ao hotel. Acabamos por ir todos. Estou completamente mocado.
No percurso pedestre para o outro bar (já não me lembro do nome) encontramos um telemóvel e uma carteira no chão. A ética holandesa sai ao de cima e um deles vai à procura de um policia para entregar as coisas. Imaginem lá isto acontecer em Portugal...
Devem ter passado uns 10 minutos a andar, que parecem em alturas diferentes meia-hora, um minuto, 3 horas. É o efeito da cannabis na percepção do tempo. Entramos no tal bar que está à pinha.
(continua no próxima capitulo)

1 Comments:

At 7:46 da manhã, novembro 26, 2006, Blogger Yashmeen said...

Permita-me que comente: de facto, há cada vez mais Lolitas histéricas de mini-saia e cada vez menos góticas à moda antiga. No meu tempo (e posso dizer "no meu tempo", acredite), o objectivo de uma gótica não era a provocação sexual. Exibiam-se sim a riqueza dos veludos, das rendas, das saias a arrastar, como uma vitoriana de luto (aliás, usávamos até réplicas das jóias dessa época). Os rostos queriam imitar a porcelana e os olhos marcados a preto reproduzir uma tristeza infinda.
Os tempos mudaram. A boa educação e a civilidade também já se perderam entre a nova geração de góticos, onde pululam as Amy Lees pintadas como palhaços e as réplicas baratas do Marylin Manson "k excrevem axim". Havia entre "os antigos" uma cultura geral acima da média, regras de civilidade muito bem definidas, que tão bem descreve neste post.
Compreendo que isto aconteça na Holanda. Infelizmente, em Portugal apenas conheço um dois sítios onde os velhos padrões do "gothic way of life" são visíveis, e nenhum deles é na capital.
Não podemos contudo ter a arrogância de dizer quem são "os verdadeiros góticos". Os tempos mudam, não é? E nós vamos ficando para trás...

Parabéns. Gostei do seu texto.

Yashmeen
http://elisabetec.blogspot.com

 

Enviar um comentário

<< Home

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!
Free Live Chat Rooms Enter my Chat Room
Free Chat Rooms by Bravenet.com
Who links to me?