terça-feira, janeiro 13, 2004

Do Porto para o Funchal, do Funchal Para o Porto, do Porto para Londres, de Londres para a pasmaceira

Sim, eu sei que tenho andado desaparecido. Andei a acrescentar mais umas milhas à minha conta de passageiro frequente da TAP. Primeiro para a Madeira, de férias natalicias, depois, para Londres, em viagem de trabalho e algum lazer.
Esta coisa de se sair do sitio onde se vive, principalmente para um outro país e então para uma cidade como Londres é para mim quase uma questão de saúde mental, mesmo que em trabalho.
Tonifica os neurónios, limpa parte das teias de aranha acumuladas nesta pasmaceira à beira-mar plantada. E quando se está com amigo(a)s estrangeiro(a)s de outras andanças, o sentimento é de um reencontro com almas gémeas.
Que óptimo saber que em vários pontos da Europa há gente que pensa como nós, que são porreiros como pessoas e que não precisam de usar os Drs para mostrarem a sua competência. E que também curtem beber umas pints depois de dias de trabalho extenuante...
Para além dos factores humanos, há que tem em conta o próprio contexto fisico...

Agora quando ouvir o Morrissey a cantar sobre cabeleireiros em fogo em Sloan Square, tenho uma imagem da praça.

Passei por Picadilly, onde fica o Palare, mas não vi os boys do gang do Moz.

Cruzei-me com montes de góticos puristas em Camden Town e senti-me como se aquele sitio fosse meu.

Pediram-me lume em Kings Road, e quase que convidava a gaja a beber um copo, tal a simpatia com que me agradeceu e ficou a olhar para mim enquanto dava uma daquelas passas de quem não fuma há horas.

Confundiram-me com um Londrino no Soho e pediram-me indicações para Trafalgar Square (que dei, pois tinha passado acidentalmente por lá pouco antes).

Descobri que a minha costela anglo-saxónica via música e via um ascendente longinquo do tempo do Beresford é capaz de afinal ter o triplo do tamanho do que pensei.

Curti passear ao longo do Tamisa, no South Bank, sem destino, e descobrir que aquela roda enorme estava afinal mesmo alí ao pé e que a Tate Gallery estava aberta até às 10 da noite e que não se pagava para entrar.

Da famosa chuva britânica tive só um pequeno vislumbre, numa das tardes.

Descobri que o frio não era tão frio e que os Ingleses exageram no aquecimento das edificios quase até ao ponto de suar em bica. Que são simpáticos, bem educados.

Perdi-me de proposito em Londres, cheirei cheiros de mil e um países, saboriei sabores exóticos, cruzei-me com pessoas de todas as etnias.

Até ouvi disco-sound (URGHHHH!!!) num bar do Soho, parti-me a rir com dezenas de "Jumping Brits"* à minha volta, excitadissimos com os Abba. E mesmo assim gostei daquela alegria despreocupada.

Caguei para Buckingham Palace e afins, só vi a London Bridge, o Big Ben e as Houses Of Parliament ao longe e foi suficiente.

Ri-me com as histórias da Diana no Daily Mail e nos outros tabloides (e ainda me queixo da tabloização das Tvs...A Moura Guedes devia fazer uns estagiozinhos no Sun)

Só não descobri bares Indie-rock.

A TAP, para variar, cumpriu escrupulosamente os horários (influências da pontualidade britânica?) e manteve o seu excelente serviço a bordo.

Depois cheguei a Portugal. E fui invadido por pedofilias, demagogias primeiro-ministeriais, o regresso do discurso do alcatrão e das auto-estradas enquanto se morre à fome nas zonas destas vias "estruturantes" que deverão estar prontas lá para o dia de São Nunca à tarde (ou então, nas vésperas de alguma eleição).
E assim as teias de aranha começam a crescer...Para serem limpas novamente daqui a uns tempos, quando for novamente lá para fora, para o mundo desenvolvido...Ou para o mundo não desenvolvido mas mais real.

Mas estou livre cá dentro, mesmo que preso pelo que me rodeia.


*britânicos aos pulos

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