quinta-feira, abril 20, 2006

crónicas de uma rapariga gira sem namorado aos 30 anos # 52

Numa bela tarde de sol, mas com um vento que não deixa esquecer o que é a nortada, estava à conversa com um amigo, quando surgiu uma questão interessante. Uma questão sobre a qual nunca pensei muito seriamente antes dos 30 anos. Depois disso comecei a pensar. Principalmente quando os nossos amigos já começaram a pensar e alguns até já se decidem a ter os segundos, os terceiros. E outros querem, mas não conseguem. E outros, ainda, pensam, apesar de ainda só teorizarem sobre o assunto.

A questão que surgiu parece-me muito pertinente a partir dos 30 anos. Motivos biológicos. Motivos sociais. Motivos inerentes à espécie. A nossa pergunta era “qual o motivo para querermos ter filhos?” Já tinha falado sobre o assunto, mas nunca ninguém me tinha perguntado especificamente, qual seria a motivação mais nobre para se querer ter filhos.

Muitas vezes, me dizem que só quem tem filhos sabe o quão difícil é educá-los. E que um dia, eu irei perceber as dificuldades inerentes. E também me dizem que não devo dar palpites, porque quem está na situação faz sempre o melhor que pode. Em relação às duas primeiras afirmações, concordo. Em relação à última afirmação, não concordo. Quem me conhece, já me ouviu dizer várias vezes que algumas pessoas deviam aprender a lidar com os filhos. Já me ouviram também dizer que se não fossem alguns estilos educativos, tínhamos pessoas emocional e mentalmente mais saudáveis. Claro que digo estas coisas levianamente e com uma certa dose de ironia. Parece-me, no entanto, que realmente muitos dos nossos problemas poderiam ser evitados se tivéssemos pais com consciências diferentes. Lembrei-me agora de um filme que vi sobre as relações conjugais, que tinha um quadro engraçado em que o casal estava na cama, acompanhado pelos pais de ambos. Pois. Nós somos em parte o que os nossos pais fizeram de nós. E em alguns casos eles são muito cruéis, levando-me a crer que eles devidamente ensinados ou orientados poderiam fazer melhor.

Acho que um dos problemas básicos desta situação é o facto dos potenciais pais não perderem algum tempo a pensarem na sua motivação para terem filhos.

Como dizia o meu amigo, muitas das pessoas que ele conhece tiveram filhos que foram autênticos acasos de uma queca sem os cuidados necessários.
Conheço outros que me dizem que querem ter um sentido para a sua vida. E a estes, pergunto se não seria melhor encontrarem um sentido neles próprios e depois decidirem ter filhos.
Outros, apesar de não dizerem, querem ter alguém que possa fazer tudo o que eles próprios desejavam, mas não foram capazes. E a estes, pergunto se eles já não são capazes de lutarem por aquilo que querem.
E, aqueles que tentam salvar a Sua relação que está à beira do colapso.
Existem os que o fazem apenas pela sociedade.
E os outros, que sentem o apelo biológico.


A maioria dos argumentos que conheço, levam-me a pensar que as crianças vão ter de carregar uma cruz muito pesada e que ainda por cima, pertence aos seus pais. Isto não me parece justo. Nesta altura pascal, até me faz lembrar a paixão de Cristo. Levam-me ainda a pensar que os pais pensam ser donos dos filhos, quando se deveriam considerar tutores responsáveis por educá-los e lhes dar amor para que estes sigam o seu próprio caminho, uma vez que em última análise somos ser individuais, livres e solitários. Isto faz-me lembrar uma das questões mais capitalistas que se prende com a necessidade de posse.

A minha resposta surpreendeu-me. Foi instantânea. E até aquele momento pensava sempre no assunto numa perspectiva crítica da sociedade. Apesar de me ter confrontado com um motivo que não esperaria que fosse o meu, fiquei feliz com a resposta.

Eu quero ter filhos para prolongar a espécie. Espero saber dar-lhes todo o amor que precisarem para que possam sair e conhecer os mundos que desejarem: os meus mundos e os que eles descobrirem. Deve ser um motivo biológico. De acordo com o que escrevi antes e mesmo tendo mais de 30 anos, ainda tenho umas quantas coisas para resolver antes de me decidir a procriar.

E vocês? O que vos leva a ter filhos ou a pensarem em ter filhos?

10 Comments:

At 4:29 da tarde, abril 20, 2006, Anonymous Anónimo said...

Em primeiro lugar, tu é que és muito linda. Depois, a pergunta que me interessa mais é: o que é que leva a natureza a fazer com que as partes da natureza (nós, cães, peixes, etc.) sintam o impulso pra reproduzir? (é claro que sabemos intuitivamente a resposta - horror ao vazio, vontade de sofisticar, de vida, etc.) mas a pergunta tem o interesse de pôr o esforço de perceber em zonas mais vastas que o humano (o universo ou natureza que contém o humano). De qualquer maneira, nunca é mau fazer essas perguntas ou saber que elas existem. No limite, uma mãe também nunca sabe explicar o amor pelo filho (ainda que valente idiota) de outro modo que não seja pelo próprio amor de mãe. Esse "amor de mãe" ou de pai, tal como a vontade de reproduzir, são (em termos gerais) truques da natureza para garantir a sua próprio continuação e sofisticação através (também) de nós.
Rui Costa

 
At 8:35 da tarde, abril 20, 2006, Blogger Castromind said...

Tomara alguns dos nossos pais serem assim tão egoistas e teriamos uma geração menos egoista. A tendencia é para piorar. Como costumo dizer, amanha há mais.
PS: A reparar que nos morangos com açucar por exemplo não há qualquer criança com idade biologica com menos de 10 anos. Mas há crianças crescidas que dizem bacuradas como a guapita. Zapit.
PPS: No meu hi5 tenho ja fotos com as minhas filhas e acho que ja não preciso comentar mais nada neste topico.
PPPS: Mesmo com duas filhas tenho um umbigo de fazer inveja a qualquer miuda sem nenhum filho.

 
At 9:55 da tarde, abril 20, 2006, Blogger rps said...

Parece-me que a maior parte das pessoas tem filhos por duas razões:
- porque sim
- porque é isso que muita gente espera delas

 
At 1:29 da manhã, abril 21, 2006, Blogger bonifaceo said...

Gostei da resposta do rps, aplica-se em muitos casos.
Eu para além de ainda só ter 24 anos, não tenho grande jeito para crianças, por isso não me estou a ver a sentir ter um apelo biológico, acho mesmo que se não mudar e me casar preferia adoptar uma criança quando já tivesse perto dos 40 :D (quero viver despreocupado durante muito tempo de ter que educar uma crinça).

 
At 11:07 da manhã, abril 22, 2006, Blogger Nuno Silva said...

participei durante quase dois anos na educação de uma criança, entre os seus 2 e 4 anos, que não era minha mas da pessoa com quem tive junto. quando nos juntamos não pensei se seria difícil ou se me iria adaptar a ter um "filho". tenho a melhor relação possível com ele, tratei-o como um filho e vi esse amor correspondido. concordo contigo, isis, na maneira como devemos educar porque foi dessa maneira que o fiz. ve-lo a descobrir o seu proprio mundo deu-me mais prazer que criar um "clone" meu. podemos pensar que não estamos preparados e afinal até estamos, como o contrário. acho também que um dos problemas é falta de paciência para com as crianças. é claro que se é um filho "pensado" a nossa predisposição para perder tempo com ele é outra. Ou deveria ser.

 
At 8:47 da tarde, abril 23, 2006, Blogger Elentári said...

Oi! Gostava de ter filhos para saldar a dívida com a mãe natureza. Este meu discurso pode parecer um neo-hippie ridículo, mas é o que sinto. Lembras-te daquilo que davamos em ciências da natureza e disciplinas afins: "o ser vivo nasce, cresce, reproduz-se e morre"? Para mim é tão simples como isso, gostava de completar o ciclo da vida. O meu contributo e pagamento para quem me dá tudo!
(isto está tão "Rei Leão", mas da maneira como me conheces acho que dá para perceberes...)

 
At 1:54 da manhã, abril 24, 2006, Anonymous Anónimo said...

Gosto de brincar com os meus pais e com a minha irmã, com os meus gatos que se chamam afonso, sebastião, kary, kiko, e com com a minha falecida gata a kitty. Para mim ser filha é ter duas pessoas que nos amam do fundo do coração, e essas pessoas são os nossos pais. é bom porque :
brincam conosco
dão-nos carinho
dao-nos irmaozinhos para nós brincarmos
todos juntos brincamos felizes junto a eles
é optimo ser-se filha

 
At 12:02 da tarde, abril 26, 2006, Anonymous Anónimo said...

Desde que me lembro de mim que sonhei ter filhos. Tenho uma filha LINDA de morrer que tem 3 anos (e juro que não é uma idiota ;-))e vem a caminho um irmão/ã.
A Matilde fez sentido porque veio premiar uma relação que já merecia, pela duração, pela partilha e pelo amor, um fruto que ficasse para além de nós. O segundo vem porque simplesmente tem sido tão bom que quisemos repetir a experiência(espero que o meu umbigo aguente e fique em condições).
Quanto à educação....sinceramente não me preocupo muito com isso. Acho que agimos de forma muito natural com ela, damos o melhor. Conheço pessoas que se sentem "presas por ter filhos", eu tenho a sorte de ter uma rede familiar que me permite ter tempo para mim. Ou seja, acho que devemos ter consciencia das nossas limitações e, por vezes é preciso espaço, é preciso um fim de semana com os amigos, para depois os momentos que passamos com os filhos terem mais qualidade.
Todos os dias agradeço ter a minha filha e ela, todos os dias me agradece por eu ser mãe dela.
"Mamã eu não quero que tu vás embora nunca! Quando tu fores para as estrelas eu vou lá acima buscar-te". (conversa da Matilde ontem antes de adormecer).
Isto é, como diria a Isis um momento de poesia.

 
At 12:46 da tarde, abril 26, 2006, Anonymous Anónimo said...

Poesia e verdadeira magia, Xantipa! A Matilde é um sonho. :)

 
At 2:40 da tarde, abril 26, 2006, Blogger Castromind said...

Xantipa... sem duvida poesia. E parabens pela tua felicidade.
Deixa--me tambem partilhar este momento de poesia, com a minha miuda mais velha de 8 anos.
Ao divagarmos por este tema, eu e ela, decidimos escrever o que ela sentia em relação ao pai.
Ela começou por escrever o seguinte: "Gosto de ter este pai que tenho, porque assim devo ter sido eu que o escolhi."
Admirado, eu disse-lhe. "Filha, mas nós nao podemos escolher os pais, nós nascemos com os pais que temos".
Ela respondeu "Eu acredito que antes de nascermos estamos em algum lugar e podemos escolher os pais com que nascemos. E eu escolhi-vos a voces."

 

Enviar um comentário

<< Home

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!
Free Live Chat Rooms Enter my Chat Room
Free Chat Rooms by Bravenet.com
Who links to me?