Crónicas de uma rapariga gira sem namorado aos 30 anos # 21
Admito que nem sempre me apetece ter companhia. Entre o só e o mal acompanhada, opto quase sempre pela última hipótese. Para não estar mal acompanhada, tinha de telefonar a convidar para jantar… O que na realidade também não me apeteceu. Precisava de paz. Saía para jantar. Sozinha. Com um livro para qualquer momento mais solitário, mais incomodativo, ou simplesmente para aproveitar o tempo. Na última noite, decidi não levar livro. Não queria sentir que precisava de um suporte para disfarçar o estar sozinha. Lá fui eu com destino ao Bairro Alto. Entrei num restaurante vazio, que tem uma sobremesa divinal de chocolate e menta.
Sem o tal livro decidi que tinha de falar com alguém. Os empregados eram as pessoas ideais, porque não tinham muitos clientes para atender. Acho que o gelo se quebrou, quando perguntei em tom de gozo se teria de esperar muito por uma mesa. Devo ter dado aquele ar de rapariga confiante. Tive companhia para o jantar. Tive sangria de oferta. Uma conversa interessante e lá pelo meio a tentativa de avaliar o meu interesse para “one night stand”. Deve ter sido pelo ar deslumbrado com que ele olhava para mim que resolvi contar-lhe uma série de sonhos bem guardados. Daqueles sonhos que eu guardo religiosamente dentro da minha alma. Mas eles precisam sair de vez em quando para se organizarem e voltarem a entrar em fila indiana. Daqueles sonhos que, estupidamente, quase não falo. E que falo ainda menos quando falo com alguém por quem me sinto atraída. Quase como se falar desses sonhos aniquilasse qualquer possibilidade de relacionamento profundo. Esta mania de esconder o que de melhor tenho: os meus sonhos, os meus projectos, a minha força, o meu sorriso.
Ele continuou com o ar de deslumbramento enquanto eu falava. A certa altura, já não me sentia sóbria e por isso decidi ir para o hotel. Se continuasse a beber acabaria num bar qualquer. Estava muito próxima do limiar de a partir do qual já não conseguiria parar. Ele levou-me ao táxi. Ficou parado a dizer que poderíamos voltar a ver-nos. Eu sorri. Entrei no táxi. Acenei. Ele ficou a olhar.
Foi a primeira vez que saí sozinha e engatei alguém.
6 Comments:
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
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É o delicioso (não tanto para os homens) "coquetterie"...
gostei do estrangeirismo!! Chique! ;)
quer dizer, o engate terminou contigo dentro do taxi e com ele fora??!!??
depois hás-de me dizer que engate foi esse...
foi um engate não concretizado! ;)
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