Cão como nós
"Cão bonito, dizia eu, em momentos raros. E era um acontecimento lá em casa. Os filhos como que se reconciliavam comigo, minha mulher sorria, o cão começava por ficar surpreendido e depois reagia com excesso de euforia, o que por vezes me fazia arrepender da expressão carinhosa.
Cão bonito. E ei-lo aos pulos, a dar ao rabo, a correr a casa toda.
Digamos que aquele cão era quase um especialista nas relações com os humanos. Tinha o dom de agradar e de exasperar. Mas assim que eu dizia - Cão bonito - ele não resistia. Deixava-se dominar pela emoção, o que não era vulgar num cão que fazia o possível e o impossível para não o ser" - "Cão como nós", de Manuel Alegre.
Este é um livro fantástico, de uma tão grande e bela simplicidade que questionamos como é que é possível escrevê-lo. Confirmou-me que Manuel Alegre é o Jorge Palma dos livros: escreve poesia em prosa...
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