O Cabaré da Coxa

O verdadeiro serviço público de televisão está descoberto. Trata-se do Cabaré da Coxa. Deliciei-me ontem com o programa. Nas doses certas, humor e conversa séria. Ainda por cima, deu-me toda uma nova imagem do Carlos Amaral Dias (que até agora tinha em boa ideia apenas e só por ter fabricado a Joana Amaral Dias). Uma defesa irrepreensivel (dado o tempo em que falou do tema) da liberalização das drogas leves. Houve muita gente que aprendeu alguma coisa ontem, tanto sobre esta questão das drogas, como de perturbações psiquiátricas. O modo como o Amaral Dias falou da ninfomania foi exemplar: explicou o que é com piada mas sem achincalhar e realçando a dor associada a esta perturbação. Muito bem.
Mas o Rui Unas não esteve bem apenas ontem. É agradável ver a forma como dá a voz a actores, e a bandas novas, por exemplo, permitindo-lhes divulgar o seu trabalho. Está encontrada a forma para fazer o pessoal mais jovem começar a consumir cultura. Falar dela de forma séria, mas ao mesmo tempo com piada, sem manias de superioridade da "coisa" cultural. Um exemplo para a RTP, que deveria ser a responsável por estas coisas, mas onde os programas ditos de serviço público são poucos - à excepção de alguns que começaram a aparecer na antena da RTP, mas que são produção da NTV.
Isto lembra-me o filme "O clube dos Poetas Mortos", principalmente na cena em que ao introduzir Shakespeare os alunos fazem aquele Ohhhhhh! de seca, para depois se partirem a rir com as peças humoristicas do mesmo Shakespeare.
Isto é como ler. Nenhum miúdo de 7 anos começa a ler Milan Kundera, mas se ler Asterix (e agora o Harry Potter) tem mais probabilidades de ler autores mais densos, vulgo, de qualidade, quando forem mais velhinhos.
Os intelectuais da nossa praça, no lugar de se perderem em discussões estéreis sobre cultura e a divulgação da mesma, deviam mas é ver, gravar e rever os Cabarés da Coxa.

Mas tenho uma preocupação: será que a TVI vai fazer uma notícia do género Amaral Dias defende droga para todos?