sábado, abril 10, 2004

A última vez que falei contigo tinha como horizonte a esquina da rua onde vivia.
Entretanto calcorriei ruas geladas, ruas quentes, ruas maquivélicas, ruas tristres, ruas alegres, ruas de neóns gastos e ruas de neóns da "high street".
Fartei-me de andar de avião, dos gestos de sempre e as mesmas palavras de circunstancia das hospedeiras de bordo: "Bem-vindo!" "Boa tarde, obrigado!".
Sorrisos tão bem treinados que até parecem reais.
Parti com a neblina sobre o Douro alí ao pé da ponte na ribeira "circa" Novembro- Fevereiro de qualquer ano na minha mente; com o sol das 5 da tarde a bater no azul do mar ao fundo daquela falésia naquela ilha que amo e odeio ao mesmo tempo, num qualquer Agosto.
Calcorrei as ruas de Amsterdão. Intoxiquei-me com skunk, super-skunk, black widow e todas as variedades de cannabis que já não lembro o nome. Vivi um pouco da decadência da cidade dos canais ao passear pelo bairro vermelho e pela primeira vez pôr como possibilidade pagar para ter sexo. Não o fiz. Há coisas que não se vendem e não se compram.
Tornei-me turista mainstream e até fui à Anne Frank. E depois voltei para as cervejas holandesas e para o neerhash. Embebedei-me numa discoteca a dançar com uma Wicca Austriaca e outra Holandesa. E a cerveja soube-me bem.
Fui até Milão, e detestei a cidade ao ponto de me recusar a sair ou do hotel ou dos bares. Aliás, só me aventurava pela cidade quando o sol se deitava. Andei que me fartei, dancei que me fartei. Com a wicca holandesa e a wicca austriaca. Bebi garrafas de whisky em quartos de hotel com o grande H. Destruimos a quatro mãos o lucro do restaurante ao pedir de 30 em 30 segundos mais um litro de cerveja. Vi ao longe pela primeira vez a J. Linda. E acabei perdido pelas ruas a responder em italiano, honrando o vernáculo português, a um insulto de um spaghetti com a libido activada pela minha companhia. E acabamos os 3 (eu e mais duas) a curtir uma disco hip-hop que se fosse na Invicta nem me atrevia sequer a passar perto.
Fui a bruxelas. Pouco me lembro. à excepção da J. Ai Praga...
Passei por Londres. Andei por Utrech, por Amsterdão outra vez, Por berlim, por barcelona e outras cidades iguais umas ás outras.
Em todas andei à procura de qualquer coisa no ar. A respirar, a reviver canções e livros. A percorrer os mesmos percursos daqueles que li ou ouvi.
E cá chego. Depois de calcorrear mais umas ruas, alí no Bairro Alto, com os seus pedintes chatos "english-speaking". A beber cervejas com pessoal estrangeiro num restuarante de fados para turista e a sentir-me turista. A recordar fados verdadeiramente sentidos, ao mesmo tempo que se joga o jogo que parece ocupar agora o meu tempo de trabalho.
Entretanto apresentaram-me os Toranja. E revisitei ruas coimbrãs com som do Palma. Ruas dessa Europa com a letra dessa fruta ácida e potente.
Dei por mim numa qualquer noite semi-psicadélica, semi urbano-depressiva, a ver-nos juntos em fotos, provas de que já te tive e que estavamos bem. Pelo menos sorrias e eu também. E ao acender um cigarro, ao percorrer em 1 segundo todas as cidades, todas as ruas, todas as gajas, todos os beijos que te dei, dei por mim com saudades de acariciar a tua face e brincar com os teus cabelos. Peguei no meu cachimbo de água. Acendi o misto de cannabis e rena que me vendem por ganza. E sonhei com o calor dos teus lábios. Com a alegria das tuas gargalhadas, com a poesia do teu olhar triste.
As coisas podem cair tipo algodão, tipo rocha, tipo água gelada. Hoje caiu-me com sabor agri-doce, com frio e calor, como uma daquelas sobremesas quente-frias que se comem nos resturantes chineses. Com prazer e paixão pelas recordações de quando te tinha. Com arrependimento gelado do minuto em que te mandei passear porque queria comer uma loura do passado. Com qualquer coisa de indescritivel por ter tido a metade da laranja e tê-la deitado fora com desprezo.
Desde essa altura tive vários gomos da laranja. Mas nunca mais alguma coisa tão perto da plenitude como parecia possivel entre nós. E eu rejeitei-o. à procura de mais.
Não te quero mandar uma sms por isso deu-me para escrever no blog. Ando por aqui em ruas e cruzamentos muito engraçados. Não estou mal, apenas tenho consciência da história que tanta gente parece fazer esforços sobre-humanos para esquecer.
Já naveguei e vou navegando por corpos "europeus". Acho que até já quebrei um coração lá para os lados do Leste que ainda não é da Europa dos grandes - e que beijos dava...como os teus. Ai Praga...
Mas é um facto que mulher como tu nunca mais saboriei. Como te disse, sigo a minha estrada. Mas estou de olho na encruzilhada a ver se apareces. E se só ponderares a ideia de ir até á encruzilhada novamente, lá estarei eu, pronto para te levar até espinho, guiar-te pelas areias da praia numa noite fria de Dezembro, ouvindo o mar rebelde alí ao pé e novamente debruçar-me sobre o teu corpo estendido na areia e beijar-te. E começar tudo de novo, desta vez sem os meus erros estúpidos.

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